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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Reflexos Esfumaçados

Fotografia por Pedro Santos

O cigarro aceso, sendo tragado lentamente por essa pessoa sem perspectivas que sou eu. Inconstante ao olhar do próximo, sem sexo, sem nexo. Eu sou o nada e o tudo em mim. Encarar, em preto e branco, o lado de fora do quarto escuro que é meu próprio ser tem sido um desafio incomensurável. Um olhar lânguido, lambido... Um desejar sem escrúpulos de outro corpo que não o meu. E eu nele. Talvez se a falta de ingenuidade não me fosse tão séria, eu pudesse crescer em felicidade pura. A fumaça invade todos os meus alter-egos e minha pressão baixa consideravelmente.

É o fluxo de tudo, esse vai-e-vem no qual não me enquadro. Faço-me de Bowie, mas sou Jorge Ben Jor, e o terror de perder de vez minha linha que não se curva inquieta-me. Desanda-me totalmente. Solto a fumaça, e ela, perdida no ar que me sufoca, se desmancha por completo bem na frente dos meus olhos. Que engraçado esse paradoxo profano que é viver. Totalizo-me num nada acinzentado de poréns. A mediocridade que trilharam para mim não me seduz e eu, querendo algo menos que o nada, desisto de ser.

Fecho os olhos. Agora é isso... Vejo-me não sendo. As luzes da noite dizem-me que não sou. O abajur recusa-se a iluminar-me completamente e eu, sem sexo, sem nexo, transgrido as leis da física ao ter dois corpos ocupando o mesmo lugar. O meu e o que eu queria. Tenho a falta de alma como companheira agora e a tristeza isola-me de tudo o mais. Como era aquela frase? “Tu és eternamente responsável pelo que cativas”? Bem, algo parecido... E eu, feliz ou infelizmente, não cativei nada que me fizesse continuar a ser.

Como nada, regozijo em talento de sê-lo. No mais, acordo sem punhos na corriqueira vida de voltar a ser. Não sou o nada, nem o tudo, apenas – com sacrifício – sou. Perdoo-me, com mais um trago, por ter desistido de não ser mesmo ainda respirando e tendo o coração a bater. Seria tudo uma hipótese do tédio? Tédio que me fez subir à mesa e acender um cigarro lá mesmo. Culpar os outros seria uma temeridade até para mim, então culpo a minha falta de coragem. De qualquer forma, sei que meus pensamentos só fazem sentido para mim, então acho que é hora de calar-me.

Mas ainda há o cigarro aceso sendo tragado lentamente por essa pessoa sem perspectivas que volta a ser eu.


Reconheço,
testo a prosa poética,
perco o foco...
Que foco?

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