Estava eu e as amigas, divertindo-nos mais do que parecia possível, em um barzinho de uma esquina qualquer. Entre gargalhadas e lembranças meus olhos se esquivaram para o restaurante ao lado, onde pude observar uma família um tanto quanto atípica. Antes de todos, eu o vi; alto e magro, traços bonitos, óculos de grau. Sentava-se à frente de uma jovem pequena e chorosa, completamente desesperada. Ao lado dela, uma senhora bonita, mas deprimida o suficiente para marcar-se em minhas lembranças mais melancólicas. Para completar o quadro um senhor de rosto memorável, no qual se percebia a indiferença para com o momento.
Encarar a cena chegava a ser constrangedor, mas prendia minha atenção de forma a não me deixar desviar o olhar. Comiam quase que em silêncio ferino, com exceção da jovem que continuava a chorar sem interrupções. Dava-me náuseas. Na verdade deixava-me saudosa de um dia específico de um ano sem outras recordações, no qual mamãe chorou em um enterro de gente desconhecida por mim. A mulher mais velha fitava o senhor com os olhos penosos, enquanto este dava mais atenção ao garfo cheio de comida.
E havia ele. Observando apenas a ele, não existia mais ninguém naquela mesa, naquele restaurante. Exalava demência, ódio e discórdia. Foi o momento mais gélido de minha vida aquele em que nossos olhos se encontraram. Por trás das lentes, puro desprezo, por trás da íris, morte. Creio que era isso... Nada mais que morte e brutalidade. Talvez o medo do rapaz passasse isso a mim, aos meus nervos. Apertava a faca de serra com toda a força que tinha, saltando-lhe as veias. Por um breve instante eu acreditei que ele fosse atacá-la.
Então chamaram-me, cutucando meu ombro. Sorri transtornada para a mais bonita de nós e levantei. Senti uma lágrima descendo minha bochecha que provavelmente estava pálida – como fora confirmado por uma outra amiga -, e fui até a mesa dos desconhecidos mais familiares que eu poderia encontrar. Coloquei minha mão no ombro dele, apertando-o, e depois fomos todas para casa. Boa sorte fora meu tom naquele toque, esperava seu controle mais que qualquer um daquela mesa.