![]() |
Fotografia por Pedro Santos |
Membros de gangues em San Salvador têm lágrimas
tatuadas embaixo dos olhos. Cada lágrima representa uma morte, seja de um amigo
ou familiar do membro, seja de alguém que ele matou. A marca da dor ou do ódio.
Eles tatuam o rosto para dizer de onde vêm e quem são, usam um tipo de roupa
específico e andam de um modo reconhecível. São temidos. São respeitados.
E o que isso tem a ver comigo? Nada.
Só gosto de pensar sobre os outros... Tenho dentro
de mim essa falta de lógica, corrupta e suspeita. Ando e desando num apego à
vida, mas os momentos de raridade suicida me pegam ainda. Não estou frustrada,
não me sinto deslocada, não estou sequer triste. Só quero apagar a luz do
quarto e dormir para sempre em um tempo breve. Largada aqui neste
estacionamento, me deixei ponderar sobre muito do que perdi e do que ainda
terei. Aproveitar? Como vou aproveitar sabendo que membros de gangues em San
Salvador ainda tatuam lágrimas embaixo dos olhos?
C...a...m...i...n...h...a...r...?
Pois vivo de
caminhadas por esta cidade que pouco me ilumina. É caído, eu sei. Acho que meu
querer liberdade saiu de moda, mas e daí? Vou cometer uma arte por aí, pintar a
parede do estacionamento cheio de poças e... Eu sei lá. Estou sentada. Estou
bem. Só deixa o dia chegar e vou pra casa, daí volto pra minha rotina sem
pensar nas lágrimas dos membros da M-13. Sem pensar na minha raridade suicida.
Porque, afinal de contas, eu sou mais do que feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário