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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Rapto-me como camaleoa...


Fotografia por João Paulo e Paulo Ricardo (GemeosVB)

São as curvas,
as linhas,
as cores claras
e breves...

Deixe-se levar pelo vento de si mesma. Não há mais pesar, não há uma nuvem sequer no céu... Só o vento de si mesma. Ou, no caso, o vento de mim mesma. Eu mesma? Eu, mulher. Não sou mais tão breve por ser do sexo frágil (forte!), não tanto quanto meu próprio corpo que vem e vai e se refaz. Já me fiz pesadelo e sonho de uns e de outros, agora sou realidade própria. Tão real quanto a minha venda caída sob os ventos de mim mesma. E vejo em varal, suspendidas todas as vendas de todas as vadias vorazes que somos eu, você...

E a adaptação ao meu “ne me quitte pas” já é maior do que ele próprio. Pode ir, pode me deixar... Sou a liberdade das mudanças dos meus ventos dos meus leitos e meus peitos. Eu não me deixo sozinha, não se preocupe. Tenho as curvas, as linhas, as cores claras e breves que tiram a minha própria brevidade. Em meu caso ainda há vida, eu me reconheço como eu, não preciso de baratas. Lá se vai a terceira perna, para sempre... Pois enfim.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Apartamento.

Fotografia por Pedro Santos


Dia que passa,
luz que me arrasta,
e estou vivo
pra mais um cigarro.

Tempo que voa,
de terno à toa,
soltando a fumaça
e bebendo cachaça.

Não sei se choro,
não sei se coro,
só me amordaço
nesse mormaço.

Chega-me o grito
de louco frio,
o desenho a giz
como infeliz.

Mas eu sou gente,
doente que mente
Se não há dor,
me aquece o calor.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Su(L)blime.

Fotografia por Pedro Santos


Sabe quando você entra no espelho? Faço isso de vez em quando, da última vez foi quando visitei a Asa Sul. É que estou acostumado à Asa Norte e aquelas quadras todas invertidas dá-me uma náusea quase de traição. Mas não é algo ruim, não... Eu até gosto desse frio na barriga que as quadras da Asa de baixo desse avião me provocam. É um desejo desperto. Isso, desejo.

Pois cá estou eu, no meu caso de amor infindável com a Asa Norte. É um romance lindo, sem igual, fruto de uma amizade de infância. É puro, doce. Casei-me, feliz, com a Asa Norte. Mas eis que me faço homem e todo esse amadurecer me fez experimentar a sensualidade da Asa Sul. Na Asa Norte eu sou moleque apaixonado, na Asa Sul eu sou homem de anseios indelicados.

Cresci de amores na luz do dia das SQN e corrompi-me de encantos nas luzes da noite das SQS. A verdade é essa, puramente. Sou o amante insaciável da parte sul de minha cidade, louco por esses muros desenhados e essas luzes que parecem brilhar mais que as da Asa Norte. Não me julgue, não posso me controlar... A Asa Sul que me seduziu, eu só me deixei levar.

O outro lado do espelho contém um prazer descomunal. Minhas roupas já não existem quando estou lá, eu sou apenas homem. O homem puro cheio de veleidades... Voos noturnos vulgarizando-me no vórtice de volições. E quanta vontade contida! Como adoro o outro lado do espelho! Acho que é aonde eu existo com mais afinco... A solução agora é essa, sabe? Dias na Asa Norte e noites na Asa Sul.



que perdoem-me o ser
e o ver,
mas o querer das ruas
me deu as luzes
que deus me negou
na hora do parto.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

No Marabunta.

Fotografia por Pedro Santos


Membros de gangues em San Salvador têm lágrimas tatuadas embaixo dos olhos. Cada lágrima representa uma morte, seja de um amigo ou familiar do membro, seja de alguém que ele matou. A marca da dor ou do ódio. Eles tatuam o rosto para dizer de onde vêm e quem são, usam um tipo de roupa específico e andam de um modo reconhecível. São temidos. São respeitados. E o que isso tem a ver comigo? Nada.

Só gosto de pensar sobre os outros... Tenho dentro de mim essa falta de lógica, corrupta e suspeita. Ando e desando num apego à vida, mas os momentos de raridade suicida me pegam ainda. Não estou frustrada, não me sinto deslocada, não estou sequer triste. Só quero apagar a luz do quarto e dormir para sempre em um tempo breve. Largada aqui neste estacionamento, me deixei ponderar sobre muito do que perdi e do que ainda terei. Aproveitar? Como vou aproveitar sabendo que membros de gangues em San Salvador ainda tatuam lágrimas embaixo dos olhos?

C...a...m...i...n...h...a...r...? Pois vivo de caminhadas por esta cidade que pouco me ilumina. É caído, eu sei. Acho que meu querer liberdade saiu de moda, mas e daí? Vou cometer uma arte por aí, pintar a parede do estacionamento cheio de poças e... Eu sei lá. Estou sentada. Estou bem. Só deixa o dia chegar e vou pra casa, daí volto pra minha rotina sem pensar nas lágrimas dos membros da M-13. Sem pensar na minha raridade suicida. Porque, afinal de contas, eu sou mais do que feliz.

domingo, 18 de novembro de 2012

Blitzkrieg der Angst

Fotografia por Pedro Santos


Prazer, eu sou o Medo. Eu te persigo dia e noite. Pelas ruas, pelos corredores, de bicicleta e a pé... Entro no mesmo ônibus que você, decorei a placa do seu carro. Como é que você quase nunca me vê? Eu sei que sente minha presença, tem até calafrios, mas você quase nunca me vê... São raros os momentos em que me encara, apreensivo, falido de coragem. Talvez eu seja sempre meio obscuro, não é? Não posso manter essa afirmação como certeza, sabendo tenho o dúbio como a minha principal arma. Mas como que você quase nunca me vê? Acho que essa sempre foi uma das minhas maiores frustrações.

Olha pra mim... OLHA PRA MIM! Agora, me vê? Sim, eu sou o Medo. Não me acho feio como você me pinta. Passo o dia de terno, trabalhando. Todo mundo precisa de um pouco de mim, você sabe, né? Por isso trabalho sempre, toda hora. Mas não tem problema, eu gosto. Gosto de ver a carinha assustada de cada um, observar os passos temerosos que são dados pelas pessoas. Um. De. Cada. Vez. Eu estou por cima, meu caro, entende? Você entende agora o porquê de nunca se livrar de mim? Eu estou POR CIMA!

Não desvie seus olhos de merda! Não era o que você queria? Encarar-me de frente? Pois aqui estou, sou teu Medo, o Medo de todo mundo. De vez em quando tem essa coisinha chata de aparecer pra alguém como eu mesmo. HAHAHA Não, não... Não quero te derrotar, meu trabalho é só fazer você sentir. Ah, mesmo? Não sabe o que fazer? Ninguém encara o Medo de verdade, meu amigo, ninguém. Vocês, humanos, têm mania de quererem ser superiores a tudo e qualquer coisa. Quem manda em vocês somos nós! Não, não é um sonho. O que você quer fazer? Você quis me encarar, agora trabalhe na superação, estou esperando.

ISSO! Supere-me! Quero ver. Não vou nem lutar dessa vez, só minha presença já te apavora mesmo. Não? Suas mãos tremem, seu suor corre frio pela testa. Eu produzo isso. São as consequências de me ter tão perto. Estou tão perto que te sinto fraquejar, seus dentes estão batendo e não é frio... Esse ranger deles também não é raiva. Isso é o pavor. Eu não sabia, mas te possuo por inteiro, não é? Você é meu bonequinho. Minha marionete. Pernas trêmulas, hahaha. Mas que bobagem estar aqui, você mesmo já é uma prova viva de que eu sou insuperável.

Terminou? É isso? Não preciso de mãos, não preciso nem te ver. A porta está trancada, a chave está comigo, e você não vai pular a janela do quinto andar. Você é meu, até mesmo quando acha que tudo acabou, você é meu. Mas não chore, não é o fim do mundo! Aprenda a acolher-me como fez com a loucura. Que tal? HAHAHAHAHAHAHA, patético! Vocês humanos são todos patéticos! Diga-me quando você se acabar... Tenho toda a eternidade, sim, mas ela não pode ser gasta com você. É, o Medo te controla.


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Reflexos Esfumaçados

Fotografia por Pedro Santos

O cigarro aceso, sendo tragado lentamente por essa pessoa sem perspectivas que sou eu. Inconstante ao olhar do próximo, sem sexo, sem nexo. Eu sou o nada e o tudo em mim. Encarar, em preto e branco, o lado de fora do quarto escuro que é meu próprio ser tem sido um desafio incomensurável. Um olhar lânguido, lambido... Um desejar sem escrúpulos de outro corpo que não o meu. E eu nele. Talvez se a falta de ingenuidade não me fosse tão séria, eu pudesse crescer em felicidade pura. A fumaça invade todos os meus alter-egos e minha pressão baixa consideravelmente.

É o fluxo de tudo, esse vai-e-vem no qual não me enquadro. Faço-me de Bowie, mas sou Jorge Ben Jor, e o terror de perder de vez minha linha que não se curva inquieta-me. Desanda-me totalmente. Solto a fumaça, e ela, perdida no ar que me sufoca, se desmancha por completo bem na frente dos meus olhos. Que engraçado esse paradoxo profano que é viver. Totalizo-me num nada acinzentado de poréns. A mediocridade que trilharam para mim não me seduz e eu, querendo algo menos que o nada, desisto de ser.

Fecho os olhos. Agora é isso... Vejo-me não sendo. As luzes da noite dizem-me que não sou. O abajur recusa-se a iluminar-me completamente e eu, sem sexo, sem nexo, transgrido as leis da física ao ter dois corpos ocupando o mesmo lugar. O meu e o que eu queria. Tenho a falta de alma como companheira agora e a tristeza isola-me de tudo o mais. Como era aquela frase? “Tu és eternamente responsável pelo que cativas”? Bem, algo parecido... E eu, feliz ou infelizmente, não cativei nada que me fizesse continuar a ser.

Como nada, regozijo em talento de sê-lo. No mais, acordo sem punhos na corriqueira vida de voltar a ser. Não sou o nada, nem o tudo, apenas – com sacrifício – sou. Perdoo-me, com mais um trago, por ter desistido de não ser mesmo ainda respirando e tendo o coração a bater. Seria tudo uma hipótese do tédio? Tédio que me fez subir à mesa e acender um cigarro lá mesmo. Culpar os outros seria uma temeridade até para mim, então culpo a minha falta de coragem. De qualquer forma, sei que meus pensamentos só fazem sentido para mim, então acho que é hora de calar-me.

Mas ainda há o cigarro aceso sendo tragado lentamente por essa pessoa sem perspectivas que volta a ser eu.


Reconheço,
testo a prosa poética,
perco o foco...
Que foco?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Morfina Natural



Respiração ofegante:
- Medo?
- De ti.

Sorrisos de canto
dando lugar às bocas abertas...
- Prazer!
- Contigo...

O detalhe
do suor
- Amor...
- Por você.

Sussurros
substituídos por gritos?
Por afagos vocais...
- Eu...
- Também...

Expressão imprópria
de quem se faz
mais que em felicidade.
- Foi?
- Fomos.

Quem precisa
de seringa?

No hay dolor
cuando estoy
con usted.