Fui abrigada pelo Senhor dos Sonhos esta noite,
deve ter achado divertido me levar para passear em seus braços de Morfeu. O
castelo em si era enorme, parecia refletir tudo o que eu penso, o que gosto e o
que temo. Os olhos do Príncipe do Sono brilhavam para mim, como duas grandes
estrelas a me encarar de perto... Queimavam-me a visão, a mente e o coração. O
sorriso que me lançou foi apavorante, mesmo que belo. Comentou que sua irmã me
esperava nos domínios dele próprio, eu não sei se a queria encontrar.
Caminhei pelo caminho de prata derretida – mal sei
como o fiz – e acabei chegando a um balaústre solitário, sem função. Um
balaústre negro, trabalhado como que pelo(a) Desejo. Os detalhes eram insensatos,
mas perfeitamente delimitados. O limiar parecia ser o objetivo daquilo tudo.
Inclusive daquele sonho, ou pseudo-sonho. O limite da insanidade se fazia
confuso. O escuro se desfez ao redor do balaústre e encarei quatro imagens
sorrindo-me. Virei-me e vi mais duas. O sorriso do Senhor dos Sonhos me encantava
tremendamente. Foi-me explicado que faltava uma. E eu esperei.
Caminhava entre os irmãos em um vestido negro
que cobria sua pele branca e macia com delicadeza. O corpo magro, braços
finos... As perdas de meu sonho quase reluziam de tão claro. Agora tudo estava
solidificado novamente, montado com peças claras de ouro. Ouro-branco. Na
entrada de sua irmã, Morfeu tinha os braços cruzados, o cabelo espalhado pelo
rosto, a pele tão branca quanto a dos outros seis irmãos. Observava-me
cauteloso, escrevendo em meus sonhos o que haveria depois. Tremi. A seguir os
lábios vermelhos do(a) Desejo encontraram os meus, mas foi tão rápido, não
percebi quando surgiram, nem de onde. Sumiu como apareceu. Formaram um círculo
ao meu redor, e agora o balaústre era eu mesmo. A Morte, cabelos compridos e
negros como o seu vestido, tocou-me a face com a ponta dos dedos. Unhas
pintadas de preto. Unhas compridas.
Meus olhos então se abrem. E estou aqui, na
determinação real de tudo. – Hora do remédio!
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