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sábado, 22 de setembro de 2012

Hora do remédio.


http://www.flickr.com/photos/lisagreve/

Fui abrigada pelo Senhor dos Sonhos esta noite, deve ter achado divertido me levar para passear em seus braços de Morfeu. O castelo em si era enorme, parecia refletir tudo o que eu penso, o que gosto e o que temo. Os olhos do Príncipe do Sono brilhavam para mim, como duas grandes estrelas a me encarar de perto... Queimavam-me a visão, a mente e o coração. O sorriso que me lançou foi apavorante, mesmo que belo. Comentou que sua irmã me esperava nos domínios dele próprio, eu não sei se a queria encontrar.

Caminhei pelo caminho de prata derretida – mal sei como o fiz – e acabei chegando a um balaústre solitário, sem função. Um balaústre negro, trabalhado como que pelo(a) Desejo. Os detalhes eram insensatos, mas perfeitamente delimitados. O limiar parecia ser o objetivo daquilo tudo. Inclusive daquele sonho, ou pseudo-sonho. O limite da insanidade se fazia confuso. O escuro se desfez ao redor do balaústre e encarei quatro imagens sorrindo-me. Virei-me e vi mais duas. O sorriso do Senhor dos Sonhos me encantava tremendamente. Foi-me explicado que faltava uma. E eu esperei.

Caminhava entre os irmãos em um vestido negro que cobria sua pele branca e macia com delicadeza. O corpo magro, braços finos... As perdas de meu sonho quase reluziam de tão claro. Agora tudo estava solidificado novamente, montado com peças claras de ouro. Ouro-branco. Na entrada de sua irmã, Morfeu tinha os braços cruzados, o cabelo espalhado pelo rosto, a pele tão branca quanto a dos outros seis irmãos. Observava-me cauteloso, escrevendo em meus sonhos o que haveria depois. Tremi. A seguir os lábios vermelhos do(a) Desejo encontraram os meus, mas foi tão rápido, não percebi quando surgiram, nem de onde. Sumiu como apareceu. Formaram um círculo ao meu redor, e agora o balaústre era eu mesmo. A Morte, cabelos compridos e negros como o seu vestido, tocou-me a face com a ponta dos dedos. Unhas pintadas de preto. Unhas compridas.

Meus olhos então se abrem. E estou aqui, na determinação real de tudo. – Hora do remédio!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A boa culpa.


Comprometo-me pouco escrevendo
por isso o faço sem culpa e sem dó.
Fui lançada ao mundo pelos incorruptos,
mas não sei como sê-lo.

Desajuizada, já me descomprometo
com aquele que com outra
laçou-se há um tempo...
A culpa não é de todo minha,
nem em parte dele.
É que o desejo é cruel.

Desgraço-me nas suas graças
de rapaz de outra vida,
mas é boa a ousadia.
Tenho para mim ser a súplica
de um querer diferente
bem mais quente
que esse que não há temor.

Vim ouvindo seu jeito
de não ser comigo,
pra ser com a distinta...
Instiga-me a falta,
ou os volupiosos pensamentos
que me faz pensar.

Atenha-se aqui por um momento,
acende a paz pra gente,
que estou querendo um prazer
maior contigo.

Ai ai, é esperar?
Pois eu espero,
só mais uns momentos porém,
que minha vontade tem muita
muita muita pressa.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

E nela, a delicadeza.



Cheguei a pintar minhas unhas
da cor de seus cabelos...
Um laranja forte, delicioso.
Pintei minhas unhas
da cor de seus cabelos...
Para ver se então ela me notaria
como notou logo.
O laranja forte (delicioso)
em minhas unhas, acariciando sua pele branca,
pele branda.
Desenho leves linhas vermelhas
em suas costas de menina com mente de mulher.
E agora a menina sou eu,
apaixonada pela mulher
de cabelos de
um laranja forte - delicioso.
(Minha cor favorita.)

domingo, 16 de setembro de 2012

A pequena livraria.



Eles eram engraçadinhos, não andavam de mãos dadas, não ficavam se enchendo de beijos ao sentarem um do lado do outro, mas conversavam bastante e riam mais ainda. Andavam por Londres quase que brincando, a menina não parava de sorrir, maravilhada com a cidade. Era cinza, mas de uma beleza literária sem igual! O jovem a acompanhava, sem passos largos tendo em vista que era bem maior que ela. Dois amigos. Os mesmos dois amigos de três anos atrás.

Em dois passos chegaram a uma livraria pequenininha, daquelas que ela só havia visto em filmes. – Ah, não... Quer parar em OUTRA livraria? – Ele dizia revirando os olhos, mas logo depois a cutucou para dentro da lojinha. O local era aquecido, diferente das ruas chuvosas da capital inglesa. Havia uma escadinha para alcançar os livros em prateleiras mais altas, e a mocinha a escalou, empolgada com o que poderia achar. – Você tá com o dinheiro aí? Acho que faremos mais uma compra! – Comentou ao passar o dedo indicador por um livro específico. – Mas assim vamos gastar todo o dinheiro em seus livros! ... Ok, tá aqui. – Ele pegou um exemplar inglês de Nietzsche e passou a folhear, um tanto desinteressado apesar de gostar das ideias niilistas. – Veja, veja! – Ela disse, mostrando-lhe o livrinho, de bolso. – Não é maravilhoso? – Ela sorriu. A arte da capa era uma beleza mesmo, o título e o autor desconhecidos para ele. – Quem é esse? – Perguntou. – Ah, sei lá. Mas parece interessante... Gosto de coisas novas. – Ela subiu novamente a escada, uns três degraus, e o chamou para mais perto com o mesmo indicador que escolheu o livro desconhecido. Ele se aproximou, sorrindo. – Amizade é boa assim... – Ela riu e o beijou, e ele a retribuiu divertido. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Estudo sobre a falta de sentido.



estou agora a testar a falta de pontuação e a falta de respeito deliciando-me aos pés dessa minha mente corrida que pensa uma coisa atrás da outra lembra da borboletinha azul que você viu certo dia acho que me perdi nos seus olhos cor-de-mel interessante interessante não usar nem mesmo uma virgulinha que seja pobrezinha isso parece tão incoerente a coesão então perdeu-se na primeira linha mas que seja estou libertando-me dos sinais de pontuação gostaria talvez terminar de um jeito abusivo mas não sei não sei conseguiu lembrar agora da borboletinha azul não é eu sei que sim aquela coisinha de asas frenéticas que pousou no seu dedo você saiu correndo para me mostrar mas eu me perdi nos seus olhos cor-de-mel lindos olhos cor-de-mel que você tem sabia disso é pois bem eu sinto falta deles como sinto falta das vírgulas e dos pontos e como sei que te agoniza ler isso tudo tão atropelado mas só precisava te falar do meu amor de um modo mais solto livrando-me daquilo que agora sinto falta estou falando da precaução pois sim venha cá que lhe mostro o sorriso mais doce só não tão doce quanto o seu ao ouvir meu eu te amo ah minha pequena menina acho que o papel está se contorcendo aqui de tanta tristeza pela falta de entendimento que minha caneta lhe rabisca venha deixe-me mostrar a todos como eu te amo E TE AMO E TE AMO acho que preciso colocar em caixa alta para gritar já que não tenho o ponto de exclamação mais é isso não tenho mais os pontos eles todos fugiram de mim nem meu frenesi para escrever-lhe uma carta nova e se falar coisa com coisa for o importante prefiro a insignificância do meu amor pois venha me ver desenhar letras uma atrás da outra sem pensar muito bem no que faço olha só que engraçado até meu quarto é mais organizado e você bem sabe a bagunça que há aqui só queria te falar o quanto sinto seu amor e mais MUITO MAIS o quanto eu sinto sua falta aqui ao meu lado perco-me nos teus olhos cor-de-mel novamente ah meu bem cadê seu corpo marcado ele me faz tanta falta eu sofro sem você devia saber devia entender não é uma vírgula que faz a diferença mas sim o parêntese que tem a forma do sorriso unilateral mas que coisa que coisarada boba porque se colocarmos os dois parênteses temos dois sorrisos e a unilateralidade acaba com a tristeza de não ter um só já percebeu isso não já cadê aquela teoria da unilateralidade amorosa bem bem ela existe você sabe mas essa sua pergunta é latente mas que coisa horrível de se pensar não há nem mesmo um parágrafo para demarcar não me entende eu sei

pronto marquei parágrafo e nesse falo do que falava no outro de certo então não há diferença quer um beijo agora não quer eu também quero socorro não me aguento nesse sufoco de palavras acho que eu deveria pontuá-lo qualquer dia desses mas não não isso é um estudo mental das minhas palavras cheias e vazias todas juntas misturadas com minha vontade de escrever percebeu que o ritmo se acelerou eu percebi facilmente porque meu sentimento cresceu e eu escrevo freneticamente tudo isso que vem agora todo o meu amor minha quantidade de desejo ah meu bem venha aqui deixe-me abraçar seu ser puro e carente que também estou precisando de seu amor meu bem não chora agora só por não me entender eu também entendo-me mal e sei como é ruim muito ruim mas dizem que entender a mente de uma mulher é complicadíssimo assim mesmo perdoe-me por sê-lo eu estou aqui suando as mãos para escrever mais e mais mas tenho que largar isso e tenho que ir-me e deixar tudo para lá porque o texto perdeu-se nele mesmo como eu me perdi em mim mas não te perdi nunca te perderia você é tudo sempre foi e nenhuma vírgula mudaria isso e que essa carta que virou estudo que demonstra meu amor seja pouco mas sinto ser o suficiente e sempre será e minha insanidade meu ritmo latente perigoso está aqui para contigo quero você e você me quer e somos tudo isso ao mesmo tempo untado de carinho e demência ah meu bem ah meu bem

o bom é saber que não importa muito como escrevo e que a falta de pontos te deixa livre para interpretar da maneira que quiser eu te amo é isso eu te amo demais engraçado o que a vida faz com a gente pois bem

pontue

...!?,;:"".  

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

anti-métrica


decassílabo por decassílabo

prefiro a trissilábica
amorosa

que não vivo de forma
e poesia não vive de métrica
desato-me desse nó sufocante
que chamam de beleza parnasiana

não trabalho com sonetos
tampouco com rimas ricas
ou mesmo preciosas


gosto de intercalar os versos
criando a perdição e a pureza
com uma palavra aqui
e seu antônimo ali

a beleza do meu eu
está não em mim
mas no sonhar do teu próprio

a poesia é feita
de poeta e de terceiros
os segundos
traçaram minha hora

que me perdoe Bilac
não lhe tiro o principado
porém é o que digo, é o que falo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ensaio sobre a leveza


Vim escrever com palavras soltas, porque os floreios encantam-me apenas em inspirações. Estive lendo pouco, bem pouco mesmo... Não por falta de tempo, mas por falta de vontade. Já sentiu-se pesado a ponto de não querer fazer nada mais que dormir e, quem sabe, escrever duas ou três frases num papel que logo será jogado fora a la parnasianismo? Pois que os textos sejam leves, que de pesada já basta eu!

Flores de laranjeira nunca me agradaram
Não senhor, isso é lenda
O que me agrada mesmo, Amarantes
É o seu sorriso molenga

Decaíram tenebrosamente! Poemas de brincadeira, traço vários... Já fiz uns dez versos para dizer que gosto de ser da rua, mas de um jeito tão descontraído que parece piada a qualquer um. Venha-me leveza, aquece-me que não aguento mais o pouco caso com minha poesia!

Decassílabo por decassílabo
Prefiro a trissilábica
De amores.

Isso, leveza, preencha-me! Que já não sorrio sem fazer o meu poema diário... O que me falta é apenas aquele pouquinho. Sabe, não sabe? O pouquinho da sutileza que não está me convindo agora. Qual era o tal passado obscuro que disse um dia: “falta-lhe paixão pela escrita”? Falta-lhe vergonha na cara! Aliás, levando em conta o ensaio sobre a leveza, cara não. Cara quem tem é bicho, já dizia papai. Falta-lhe vergonha na face de boneca, pois já é mulher quase formada.

O batonzinho rosado
No lábio do seu filho
Não eras tu
Que queria una hija?

Jogo-me cabisbaixa, portanto. Fazer poemas sobre personagens futuras ou passadas não me mantém! Sou mais, fui mais! Dizem que o certo é escrever bêbado e revisar sóbrio. O que não me falta é minha alma embebida em dolores! Ou mesmo colores... O belíssimo rojo, por exemplo, não me falta em nada. Estou embebida, bêbada em rojo! O que me desmerece é minha sobriedade corporal? Ora, pois...

Detalho-te em lápis
O sorriso borrado em grafite
Essa arte pela arte
Simplesmente inexiste...

Que eu continue a aprender na leveza da vida.