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sábado, 19 de janeiro de 2013

Sobre Anita


- Minhas unhas estão azuis. – Anita passa alguns minutos encarando suas unhas. Compridas, feitas por ela mesma. Ela gosta da cor que escolheu, vez ou outra até sorri. Anita encara o relógio. – Já é o dia seguinte... – E ri alto. – Essa observação é chata, não é? – A risada cessa, mas o sorriso continua. Limpo, brando.

- Acho que a senhorita andou lendo livros demais... – Seu gato marrom mia isso debochado. Reviraria os olhos, se pudesse. – Está agora parecendo Alice. Até os nomes são parecidos. – Ele sobe em seu colo e lambe a pata dianteira. Anita imagina que talvez Rimbaud estivesse certo, já ela estava a falar com gatos.

- Mas olhe, Rimbaud! – O gato a encara, como quem espera. – Minhas unhas estão azuis! – Rimbaud desce de seu colo e sai do quarto, demonstrando o mais profundo desinteresse. Anita se levanta e sente o quarto todo menor. – Para mim isso era maior... – Ela comenta em voz alta, inspecionando o cômodo com o olhar. Não demora muito para ela sentar novamente. – Talvez um pouco de Tchaikovsky.

A música invade o ambiente e torna-o maior novamente. Ela sorri, como sempre faz, deleitosa. As paredes piscam, ora rosa, ora verde. De quando em quando exprimem um laranja forçado. Pega o papel que parece endurecer em sua mão. – Rimbaud! Rimbaud!! Corra aqui, preciso de ajuda! – O gato vem correndo, pulando, quase caçando. – Onde está a caneta?  A caneta fugiu de mim, Rimbaud! – Lágrimas aparecem, espantando o sorriso. Mas foram rápidas.

- Aqui, aqui está a caneta. – Rimbaud brinca com uma BIC aos pés de Anita, que a pega secando o choro de quem não está mesmo assustada. Escreve qualquer coisa no papel duro e mostra ao felino marrom, que levanta a cabeça para dizer-lhe: - Isso já existe. – Ela coça o queixo, interrogativa. – “If you want to sing out, sing out! And if you want to be free, be free...”. – Canta Rimbaud, disfarçando o mau humor. – Você só traduziu.

- Poxa vida! – Ela risca sua tradução idiota e rabisca o desenho de um gato rabugento. – Olha, meu bem, é você. – Rimbaud mente um sorriso e passa a lamber suas patas traseiras. Anita volta-se ao papel duro e à caneta perdida para repetir frases de sonho. As paredes piscando. Verde... Rosa... Laranja. E quem queria ser Anita, finalmente vira Júlia.


O gato a encara e ao invés de falar, solta um miado. As paredes são brancas novamente. Tchaikovsky, quiçá, nunca tocara. Júlia amassa o papel, acorda, encara as mãos e constata: - Minhas unhas estão vermelhas.

4 comentários:

  1. A única metáfora da vida são as partes do viver, que "não existem". Seria mais próprio se assim fossem tratadas tais metáforas, a falta de sentido que não origina uma busca por esse não é criativa, é bobagem...

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    1. O fato d'ela estar drogada talvez mude algo na sua constatação.

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    2. Kkkkkkkkkkkkk. Vc me convenceu. XD

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  2. Imagens que não conseguem representar nada possivelmente reflexivo ou proposital não são o objetivo de um autor...

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