- Eu
cresci.
-
Cresceu?
-
Cresci.
- Foi
bom?
- Sabe
quando a fruta cai antes de amadurecer?
- Hm...
- Eu sou
a fruta caída no chão, verde, triste. Sou a péssima notícia dada aos pais. Eu
sou essa coisa grande, viscosa e violeta que é a inocência perdida.
- A
inocência perdida é violeta?
- É.
- Você
está aqui há quanto tempo?
- Dois
anos mais ou menos. Perdi as contas no quinto mês, na verdade, mas sei que se
passaram dois natais.
- Hm...
Semana que vem é natal.
- Então,
bem... Três anos quase.
- Quantos
anos você tem?
- Não tenho
idade. Mas quando entrei aqui eu tinha quatorze.
- Por
que entrou?
- Porque
sou violeta. Sou morta em meio a vivos olhos dourados de juventude. Sou presa
em meio a campos deleitosos de liberdade descomunal. Entrei porque não quis sair de mim.
- E
quando você vai sair?
-
Ninguém sai daqui.
- Só
essa semana saíram três...
-
Ninguém sai daqui. Podem sair do lugar, mas não saem do estado psicológico que
é isso aqui. Eu vou sair, mas ainda serei o violeta viscoso no qual qualquer um
penetra.
- Foi
abusada?
- Por
mim.
-
Quantos anos tinha?
- Cresci
sendo abusada por mim.
-
Cresceu?
-
Cresci.
- Foi
bom?
- Sabe
quando a fruta cai antes de amadurecer?
- Hm...
- Eu
tenho esse passado constante que me persegue de vez em quando, a gente repetiu
a conversa?
- Não.
- Eu
acho que perdi a minha inocência quando nasci.
- Culpa
do quê?
- Do mundo,
querido, do mundo...
-
Entendo. E ainda está perdida?
- Ainda
tenho mais idade do que aparento.
- Isso é
ruim?
- Quero
ter dez anos de novo. Mas dez anos de verdade... Não corrompidos dez anos.
- E o
que você quer ser?
- Quero
sair do fogo... E não ser violeta.
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