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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um diálogo sobre o próximo texto.


- Eu cresci.
- Cresceu?
- Cresci.
- Foi bom?
- Sabe quando a fruta cai antes de amadurecer?
- Hm...
- Eu sou a fruta caída no chão, verde, triste. Sou a péssima notícia dada aos pais. Eu sou essa coisa grande, viscosa e violeta que é a inocência perdida.
- A inocência perdida é violeta?
- É.
- Você está aqui há quanto tempo?
- Dois anos mais ou menos. Perdi as contas no quinto mês, na verdade, mas sei que se passaram dois natais.
- Hm... Semana que vem é natal.
- Então, bem... Três anos quase.
- Quantos anos você tem?
- Não tenho idade. Mas quando entrei aqui eu tinha quatorze.
- Por que entrou?
- Porque sou violeta. Sou morta em meio a vivos olhos dourados de juventude. Sou presa em meio a campos deleitosos de liberdade descomunal.  Entrei porque não quis sair de mim.
- E quando você vai sair?
- Ninguém sai daqui.
- Só essa semana saíram três...
- Ninguém sai daqui. Podem sair do lugar, mas não saem do estado psicológico que é isso aqui. Eu vou sair, mas ainda serei o violeta viscoso no qual qualquer um penetra.
- Foi abusada?
- Por mim.
- Quantos anos tinha?
- Cresci sendo abusada por mim.
- Cresceu?
- Cresci.
- Foi bom?
- Sabe quando a fruta cai antes de amadurecer?
- Hm...
- Eu tenho esse passado constante que me persegue de vez em quando, a gente repetiu a conversa?
- Não.
- Eu acho que perdi a minha inocência quando nasci.
- Culpa do quê?
- Do mundo, querido, do mundo...
- Entendo. E ainda está perdida?
- Ainda tenho mais idade do que aparento.
- Isso é ruim?
- Quero ter dez anos de novo. Mas dez anos de verdade... Não corrompidos dez anos.
- E o que você quer ser?
- Quero sair do fogo... E não ser violeta.

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