São Paulo, 03 de janeiro de 2004
Querido,
Mais uma vez, São Paulo não parou. Terceiro dia
do ano, e o centro está cheio. Sabe, eu acho que anda faltando amor por aqui,
sinto falta de você. Ontem deitei com um, anteontem com outro e hoje tenho uma
festa para ir e provavelmente deitarei com um diferente. Mas sinto sua falta,
São Paulo não é a mesma sem você. Eu ainda vejo carros, vejo pessoas, vejo a
fumaça saindo de cada canto... Mas não vejo você com todo o seu amor por mim e
pela cidade.
Queria que você pudesse voltar. Desencanto,
desando, desminto. Quero que você volte. Mas você não pode, né? É uma pena...
Já se foram dois anos e você não pode voltar. Não sei porque ainda perco tempo
escrevendo pra você, sentado aqui no centro. É... Você lembra daquela noite na
Augusta? Foi quando a gente se conheceu. Lembra de como foram boas as conversas
e as risadas? Eu lembro muito bem... Acho que fomos um pouco apressados. Dois
meses depois estávamos morando juntos.
Sinto falta do seu cabelo ondulado,
principalmente. Os cabelos negros e ondulados que vez em quando caíam nos seus
olhos e você tinha que puxar para trás. Ah... E seus olhos. Olhos castanhos tão profundos que me arrepiam só de
imaginar. A gente deitado no sofá, comendo pipoca e vendo seu filme favorito. “I can never decide whether
Paris is more beautiful by day or by night.” E eu não consigo decidir se São Paulo
sem você é mais vazia à noite ou de dia.
Teve uma noite que a gente brigou
feio... Você disse que eu era um babaca completo. Um desgraçado sem coração.
Um escroto. Foram as suas palavras. Eu poderia responder a altura, mas eu te
amava tanto... Amo... Amo tanto que eu só consegui chorar e pedir desculpas, te
abraçar. O erro nem foi meu. Naquela noite, São Paulo brilhou para nós. Foi um
amor de desculpas tão vivo que eu quis brigar mais vezes com você. Brigamos
muitas vezes... Eu sinto falta das brigas também. Menos da última... A última
briga não teve o amor brilhante de São Paulo.
Queria nunca te perder, queria voltar dois anos
atrás e te abraçar tão forte... Queria não ter brigado com você. Queria que
você não tivesse descido para fumar. Queria não ter ouvido as risadas altas e o
grito abafado. Queria não ter chegado para te ver caído, tão lindo e
apavorado... Aqueles idiotas gritando que o veado vai pro inferno, correndo
noite adentro. E eu chorando. Queria nunca ter chorado. Se ao menos eu pudesse
voltar dois anos atrás e ao invés de gritar perguntando “quem é esse Fábio,
ein? Quem é?” eu só te beijasse e deixasse pra lá...
A culpa foi minha, não foi? Me desculpa. Lembra
daquela noite na Augusta? Foi quando a gente se conheceu... ad infinitum.
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