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domingo, 2 de dezembro de 2012

Quatrocentas e uma palavras sobre a escuridão.

Fotografia por Isa Valença

Piano. É um piano tocando incessantemente uma música tão calma que dá calafrios. As sombras dançam, deslizam, ao som do piano inquieto... A música, lenta e fúnebre, passeia por cada canto da escuridão. As luzes são pequenas, longínquas demais para serem realmente luzes. E tem aquele vento que te persegue, te domina. Mas não tem perigo, tem? Ser amante do noturno, digo. Caminhar pelas vibrações eloquentes das cordas de piano, abraçar o vento – seja ele frio ou quente –, visitar as luzes formadoras de sombras longas e disformes.

As ruas costumam ser úmidas e gélidas nessa época do ano, principalmente à noite. É quando não se fala. E mesmo o piano que toca é um silêncio incomum. Os passos são ocos como o som que fazem. Você sabe, não sabe? O som que fazem os passos durante a noite, na brita molhada. Oco, duro, pesado... Som de vazio. Vazio que te preenche por ser amante do noturno. E logo, dessa forma, você está preso no silêncio escuro que te cerca. E você se torna o silêncio escuro que te cerca. O peso é maior. A luz te mostra os prédios, os muros desenhados, as janelas fechadas... A luz é íntima e ínfima. Mas pelo menos você vê. Porque se só sentisse...

O sentir é perigoso. Se você sente, você é. E sentir somente seria tornar-se por completo aquele meio de vazios obscuros. Não que o sentimento nele seja ruim, é apenas torrencialmente envolvente. O caso é que se você vê, com a ajuda das luzes fracas, pequenas, longínquas... Se você vê, a perspectiva é outra. E você não está mais sozinho. Está com os prédios, os muros desenhados, as janelas fechadas... As árvores tortas, os mendigos que dormem, os sonhos que vivem. Pesadelos?... Um... Soar... Voraz... Do que... Existe. Ou inexiste.

Talvez o pior seja não ser a escuridão silenciosa de si próprio. Tornar-se puramente luz e sons é um terror diferenciado. A luz acalma e não te eleva, os sons confundem. Talvez a função da noite seja o pensamento longe. Quem sabe a função da escuridão seja a reflexão silenciosa de se temer mais que ser. E o que se vê na escuridão é mais que o vazio do sossego. O que se vê na escuridão é o interior de tudo aquilo que na luz se faz superficial. Porque pelas luzes pequenas, até as sombras são maiores que o normal.

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