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Fotografia por Isa Valença
Piano. É um piano tocando incessantemente uma
música tão calma que dá calafrios. As sombras dançam, deslizam, ao som do piano
inquieto... A música, lenta e fúnebre, passeia por cada canto da escuridão. As
luzes são pequenas, longínquas demais para serem realmente luzes. E tem aquele vento que te persegue, te domina. Mas
não tem perigo, tem? Ser amante do noturno, digo. Caminhar pelas vibrações
eloquentes das cordas de piano, abraçar o vento – seja ele frio ou quente –,
visitar as luzes formadoras de sombras longas e disformes.
As ruas costumam ser úmidas e gélidas nessa
época do ano, principalmente à noite. É quando não se fala. E mesmo o piano que
toca é um silêncio incomum. Os passos são ocos como o som que fazem. Você sabe,
não sabe? O som que fazem os passos durante a noite, na brita molhada. Oco,
duro, pesado... Som de vazio. Vazio que te preenche por ser amante do noturno.
E logo, dessa forma, você está preso no silêncio escuro que te cerca. E você se
torna o silêncio escuro que te cerca. O peso é maior. A luz te mostra os
prédios, os muros desenhados, as janelas fechadas... A luz é íntima e ínfima.
Mas pelo menos você vê. Porque se só sentisse...
O sentir é perigoso. Se você sente, você é. E
sentir somente seria tornar-se por completo aquele meio de vazios obscuros. Não
que o sentimento nele seja ruim, é apenas torrencialmente envolvente. O caso é
que se você vê, com a ajuda das luzes fracas, pequenas, longínquas... Se você
vê, a perspectiva é outra. E você não está mais sozinho. Está com os prédios,
os muros desenhados, as janelas fechadas... As árvores tortas, os mendigos que
dormem, os sonhos que vivem. Pesadelos?... Um... Soar... Voraz... Do que...
Existe. Ou inexiste.
Talvez o pior seja não ser a escuridão
silenciosa de si próprio. Tornar-se puramente luz e sons é um terror
diferenciado. A luz acalma e não te eleva, os sons confundem. Talvez a função
da noite seja o pensamento longe. Quem sabe a função da escuridão seja a
reflexão silenciosa de se temer mais que ser. E o que se vê na escuridão é mais
que o vazio do sossego. O que se vê na escuridão é o interior de tudo aquilo
que na luz se faz superficial. Porque pelas luzes pequenas, até as sombras são
maiores que o normal.
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domingo, 2 de dezembro de 2012
Quatrocentas e uma palavras sobre a escuridão.
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