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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Yo solo quiero amarte.

Quero lamber-te as lágrimas
Beber-te os pesares
Comer-te os problemas

Quero roer-te as mágoas
Chupar-te o rancor
Morder-te os dilemas

Hold me tight, little angel.
I'll give you my life, little devil.
C'est la vie.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Insanidade Escolhida




Quantas vezes comecei a escrever isso? Quantas vezes simplesmente apaguei tudo e desisti? Nem parei para contar, não quis me dar ao trabalho... Na realidade, já nem sei o porquê de estar escrevendo, deve ser por isso que sempre apago tudo. Não importa, não importa. Creio ver uma necessidade muito grande na escrita, por mais banal e sem sentido que fique o texto.


Quero mostrar todas as minhas faces, se é que eu tenho alguma. Tenho vontade de criar poemas, sem rimas porque rimas prendem, e sem temas porque temas limitam. Meus desejos de escrever roteiros para curtas, como aquele do velho mendigo que vendia sonhos, estão cada vez mais transparentes. O problema é ficar na vontade, tentar escrever e não sair nada... 

A depressão vem e vai, vem e vai... Ela é tão martirizada pela minha inconsciência, que já nem sei se é exagero ou não. Interessante o tanto que as pessoas valorizam a insanidade, algumas chegam até a fingí-la para chamar a atenção. Mas acho que além dessa, as outras causas de minha depressão inconstante são muito inconclusivas e principalmente discutíveis. Por que falar disso? 

Li uma vez em um poema de Viviane Mosé que a vida anda passando a mão em mim. A vida anda passando a mão em tudo, mas ainda mais em mim. Ela está certa, a Viviane Mosé... O tempo anda me comendo, me mordendo, me consumindo. Na realidade, o tempo não faz mais que a obrigação ao me comer. Se quer interpretar como sexo, pode interpretar como sexo, isso desgasta. O tempo me desgasta. Por enquanto ele ainda não me olha nos olhos. Não tenho coragem de olhá-lo nos olhos também. Então nossa relação é assim, fria e distante, cansativa, dolorosa. 

Falando em relacionamentos cansativos... Para quê casar? Namore, no máximo vá morar com a pessoa, mas não entre na burocracia de casar. Eu quero me casar. Quero usar um vestido bonito, andar pela praia e ver a pessoa que escolhi para mim ali, me esperando. Mas tenho pouca idade ainda... Pouquíssima idade. Por que pensar nisso agora? Simplesmente penso, não tenho culpa. Ou talvez tenha. Isso de "não tenho culpa" é um vício mentiroso, sempre se tem culpa... Então tenho sim, tenho culpa, tenho culpa porque penso, penso porque sou humana. Tenho culpa de ser humana? Tenho culpa de ser humana. 

Filosofar me irrita, é verdade... Não sei porque ainda o faço. Aliás, eu não sei se devo. Poetas enlouquecem com facilidade por causa disso. Mas acho que poetas fingem, assim como diz Fernando Pessoa. Então a insanidade dos poetas é encenação? Eu, poetisa, enceno? Eu finjo? Finjo sim. Eu finjo a insanidade. Isso é deprimente, completamente deprimente...

domingo, 24 de outubro de 2010

Discurso de Formatura.


Boa noite a todos os presentes convidados, colegas, professores, funcionários.

Disse Saramago uma certa vez: "Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida". E o que é que sabemos até agora? Na realidade, muito pouco, mas estamos aprendendo.

Há muitas palavras para descrever o que passamos, e ainda mais palavras para descrever o que esperamos da vida a partir de agora. O problema é proferi-las sem contradizer uma ou outra pessoa, ainda mais sabendo de todas as diferenças encontradas não somente entre os formandos, mas entre todos que estão aqui presentes. Entre os politizados e os que apenas querem curtir a vida, entre os chamados “nerds” e os “populares”. Talvez no fundo sejamos todos iguais, todos buscando viver.

Muitos dirão que a vida é feita de atos, outros dirão que a mesma é feita de palavras. Eu digo que a vida é feita de música. Todos os momentos, todas as fases. Somos partituras vivas. Partituras que ainda serão incrivelmente modificadas e nunca estarão perfeitas, mas podem muito bem ser um grande sucesso. E quem nos escreve? Quem nos modifica? Começa com a família, depois amigos, depois professores... Cada partícula da sociedade coloca uma nota diferente.

Por falar em professores... Agradeçamos a eles pelo que nos ensinaram, e também por aprenderem conosco. Talvez uns tenham marcado mais que outros, talvez uns tenham lidado melhor conosco do que outros, mas no final todos eles são pessoas que mais tarde nos lembraremos com uma sensação boa e saudosa. Mais que professores, companheiros. Mais que companheiros, amigos. Então acho que falo por todos ao dizer: obrigada por tudo, pelas experiências; pelo apoio, do fundo da alma.

Quanto aos colegas de sala, nada se compara ao paradoxo de carinho e irritabilidade existente entre nós. Sim, porque nem tudo são flores. Mas é com eles que aprendemos a lidar com cada tipo de gente existente, desde o mais introspectivo até o mais extrovertido. Construímos aqui amizades fortes, elos que decidimos serem inquebráveis. Também formamos relações de inimizade, algumas realmente sem muito sentido, outras com razões ainda discutíveis e mesmo assim estamos todos aqui, comemorando juntos.

Comemorando juntos... Afinal, qual o sentido dessa festa toda? Viemos aqui, vestimo-nos belamente, para quê? Criamos expectativas, esperamos ansiosamente pelo fim do Ensino Fundamental... Mas ainda temos três incríveis anos de escola pela frente. Não falo em tom de ironia, realmente acredito que o Ensino Médio possa ser uma das melhores fases de nossas vidas. E para aqueles que se desanimam com isso... O que são mais três anos para quem já enfrentou oito?

Para o fim desse ano tudo o que precisamos é ânimo. Ânimo para continuar vivendo, aprendendo e ensinando. Ânimo para continuar conquistando, caindo e levantando. Somos o futuro, não somos? Então por que não tornar esse futuro algo surpreendente? Cazuza diz que o tempo não pára... Se não o aproveitarmos da melhor forma possível, será difícil ser feliz.

Novamente em palavras de Saramago: "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós". E nós, meus caros, somos responsáveis por muita coisa. Lembrando que o mundo é santo, nós que o deixamos malicioso.
Obrigada mais uma vez, e tenham uma boa noite.


(Ninna de Moura Abreu – Oradora das turmas de 9º ano do Sigma Norte de 2010.)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Babybosê Lukit (ode ao Lukito)

Tuas dúvidas meio certas,
Teus anseios em tuas letras.

Vida calma, agitada.
Complexo de paradoxos.

Em poucas palavras,
Menino mudo de muitas falas.

domingo, 19 de setembro de 2010

Olhar do desespero


Estava eu e as amigas, divertindo-nos mais do que parecia possível, em um barzinho de uma esquina qualquer. Entre gargalhadas e lembranças meus olhos se esquivaram para o restaurante ao lado, onde pude observar uma família um tanto quanto atípica. Antes de todos, eu o vi; alto e magro, traços bonitos, óculos de grau. Sentava-se à frente de uma jovem pequena e chorosa, completamente desesperada. Ao lado dela, uma senhora bonita, mas deprimida o suficiente para marcar-se em minhas lembranças mais melancólicas. Para completar o quadro um senhor de rosto memorável, no qual se percebia a indiferença para com o momento.

Encarar a cena chegava a ser constrangedor, mas prendia minha atenção de forma a não me deixar desviar o olhar. Comiam quase que em silêncio ferino, com exceção da jovem que continuava a chorar sem interrupções. Dava-me náuseas. Na verdade deixava-me saudosa de um dia específico de um ano sem outras recordações, no qual mamãe chorou em um enterro de gente desconhecida por mim. A mulher mais velha fitava o senhor com os olhos penosos, enquanto este dava mais atenção ao garfo cheio de comida.

E havia ele. Observando apenas a ele, não existia mais ninguém naquela mesa, naquele restaurante. Exalava demência, ódio e discórdia. Foi o momento mais gélido de minha vida aquele em que nossos olhos se encontraram. Por trás das lentes, puro desprezo, por trás da íris, morte. Creio que era isso... Nada mais que morte e brutalidade. Talvez o medo do rapaz passasse isso a mim, aos meus nervos. Apertava a faca de serra com toda a força que tinha, saltando-lhe as veias. Por um breve instante eu acreditei que ele fosse atacá-la.

Então chamaram-me, cutucando meu ombro. Sorri transtornada para a mais bonita de nós e levantei. Senti uma lágrima descendo minha bochecha que provavelmente estava pálida – como fora confirmado por uma outra amiga -, e fui até a mesa dos desconhecidos mais familiares que eu poderia encontrar. Coloquei minha mão no ombro dele, apertando-o, e depois fomos todas para casa. Boa sorte fora meu tom naquele toque, esperava seu controle mais que qualquer um daquela mesa. 

sábado, 18 de setembro de 2010

Olho por olho, dente por dente


Via-se de longe o casal, chamava muito a atenção. Ela não tinha mais que um e sessenta, ele não tinha menos que um e oitenta. Duas pessoas incrivelmente estranhas, atípicas. O fato de ela ter um ponto de interrogação tatuado na batata da perna direita não era nada comparado ao de ele usar um kilt de brim preto. Ela abraçava sua cintura como se abraçasse o mundo, ele tinha o braço sobre seu ombro de forma a deixar claro para todos que ela era toda sua.

Eles não tinham época, não se encontravam em década alguma. Pareciam, na verdade, alheios a qualquer medida de tempo, como se o mesmo não existisse. Nenhum dos dois levava um relógio no pulso, era dispensável. Não havia sorrisos, a exceção de quando seus olhares se encontravam. As pessoas pareciam evitá-lo, eles retribuíam o gesto. Só queriam ficar juntos e sozinhos, como se nunca tivessem feito isso.

Passando por um banco ele sentou-se, puxando-a para si. Beijou-a com tanta intensidade que parecia sugar sua alma. Não que fosse necessário, sua alma já era dele. Ela entregava-se por inteiro, agarrando seu pescoço e retribuindo tudo o que lhe era proporcionado. A relação deles parecia ser assim; olho por olho, dente por dente. Ela tinha medo do fim daqueles dias, que parecia cada vez mais próximo, e ele sabia disso.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma frase...

Inove e esqueça que já se banalizou a vida.

Como antes, como sempre.


- Olha isto. - Estavam sentados embaixo de uma árvore grande, de tronco largo, folhas de um verde ensurdecedor. Sim, ensurdecedor. Era como ela via, um verde que de tão vibrante gritava-lhe a vivacidade de um dia único. Nas mãos dele, uma joaninha, caminhando para o outro lado, atravessando aquele mundo de epiderme. 

- Uma joaninha, que tem de mais? - A frieza da voz da jovem era tamanha, espantou-o. Balançou a mão até o inseto cair, levando consigo seu ânimo. Um cão corria pelo parque municipal, a cena era perfeita. Parecia um quadro, ou uma fotografia... Ela adorava fotografias. Trabalhava com isso, ele sabia, tinha quatro câmeras: uma polaroid, uma profissional, uma de filme e uma digital. - Que sorriso é esse? - A pergunta saiu bruta, como uma faca de serra para cortar a lasanha. 

- Estava lembrando... - O dia em que entrou na sala escura dela e ligou a luz. Nunca a tinha visto tão furiosa. Tão bela, esbravejando, chorando e chutando suas canelas. Ele também começara a sorrir, encarando-a estupefado. - Com raiva você fica mais bonita. - Aproximara-se e dera um beijo em seus lábios, e logo ela também sorria, mais debochada e irônica do que de fato feliz. Não que ela não estivesse, ela estava. 

No momento havia uma ponta de dor entre os dois, como a visão de um iceberg ao longe que ainda não fora descoberto. Ela deitou sua cabeça no ombro do jovem, encarando a árvore de folhas gritantes, desviando do iceberg. - Eu te amo, sabe? - A frase, pela primeira vez, soara sincera. 

- Sei. - Tanto quanto ele a amava, mas não o disse. Levantou-se e saiu, deixando-a sozinha com aquela foto que ela tirara em um dia qualquer.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Cinismo a dois.

Eu e ele,
Nossas mentes,
Nossos corpos.

Dores quentes.
Dois doentes.

O pensamento ávido
A jóia do desapego
Literatura implícita, a arte do sossego.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Juventude em ruínas.



Recita-me aqueles versos, aqueles que em tua memória tão frescos estão a clamar por seu uso. Canta-me aquela música, a do trecho corrompido como todos nós que também o somos. Liberta da tua mente os montes instigantes que abrigam os monstros da criatividade elevada, cortada e misturada, como a própria gente de hoje. Dança os passos de teu coreógrafo preferido com todo o ardor da última dança. Espanta tu a mim e vive sozinha em claro egoísmo e despreocupação, jogando toda a culpa que tiveste em meus ríspidos e amadurecidos ombros.

Oh, pobre de ti, jovem sem tuas próprias ideias, sentada sobre outras pernas, a poetas cantarolar. Oh, pobre de ti, ex-criança em tua mais pura essência, perdendo toda a inocência, a teus novos caminhos trilhar. Oh, pobre de mim, que diferente de ti, pouco e meramente vivi. Perdoas fácil aos meus insultos e agora a abraçar-me choras, esperando a recíproca amorosidade já não existente. 

Em tuas tatuagens, duas luas e dois sóis sobrepostos, erguendo-se da montanha perdida dos sonhos impossíveis. Teus sonhos. Antigos e belos sonhos. Foge para eles e delicia-te com tuas jornadas de cometa, antes que ele caia na realidade fria e dura de meu mundo. 

Em teus cabelos cor de violeta, vejo o fim da ingenuidade, o início da descoberta sobre o outro e a vontade de partir e aventurar-te em camas alheias. Para e pensa, olha em meus olhos e fica aqui. A idade é a mesma, mas estou tão mais avançado. Perca-te para sempre nesta jovialidade que a mim fora tão cedo censurada e mostra-me novamente a alegria de ter-te em meus braços.

domingo, 22 de agosto de 2010

Psicologia solitária I

Eu estou aqui, diante de você, tentando expressar tudo o que me vem à cabeça. Mas as palavras chegam soltas, sem qualquer sentido, e é por isso que fico tanto tempo em silêncio, tentando reconciliá-las em uma só frase, ou pelo menos expressão. Parece que me conhece mais do que eu mesma com essa sua face esclarecida. Eu não gosto disso, nem um pouco na verdade. Ninguém deveria me entender, a não ser eu mesma... Ah! Então é isso? Não? Por que fica aí acenando com a cabeça? Presta atenção no que digo, por favor. Obrigada. E agora? Que foi? O que você está escrevendo aí nesse seu caderninho? Se for comportamento agressivo eu até entendo... Não que eu seja agressiva, mas aparento muito. Na verdade, talvez eu seja sim. Bem, socar as pessoas não é algo normal, é? É? Ah, então não sou agressiva. Ah! Você estava concordando só por concordar?

Silêncio... Pode comentar. Não? É para eu falar mais? Ahn, okay. Eu estou tentando me encontrar, pois é. Só que parece cada vez mais difícil. Eu não sei quais minhas características marcantes, e diferenciá-las das insignificantes é uma tarefa muito árdua para mim. Posso ser sincera? Eu não acredito muito na sua profissão. Digo, se nem eu mesma consigo dizer quem sou eu, como você que só me conhece do que falo – e olha que posso estar mentindo – poderá dizer? Está aqui só para ajudar... Entendo. Tenho amigos que dariam ótimos psicólogos. Mas acho que todo mundo tem amigos assim, não é? 

Todo mundo. É como eu me sinto às vezes, como todo mundo. Eu quero ser diferente, quero ter algo só meu, mas nunca acontece... Ou pelo menos parece que nunca acontece. E aí eu fico meio deprimida, para baixo, pensando que se eu fizer algo extremamente doentio, alguém vai fazer também, porque eu na verdade não sou única. Não diga que sou, é mentira. Já disse para não dizer! Ninguém é de fato único, pelo menos uma característica da pessoa é copiada por outra. É, você está certo... O conjunto das características sempre se difere. Ainda assim acho que não faço nada de especial.

Que expressão é essa? Essa no seu rosto. Não é mais de esclarecimento... Parece de assombro. Espantou-se com o que penso de fato, foi? Muitas pessoas o fazem, mas eu não esperava isso de você. Eu sei que... Não, eu entendo que é complexo. Saber eu não sei de fato. Eu não sei de nada. Platão, não é? Só sei que nada sei. Mas no fim, só estou aqui divagando. Você deve apenas fazer parte da minha mente. Não, você não é real. Não é. Não. Olhe para mim. Você é só meu reflexo no espelho, não percebe? Vou-me agora. Até a próxima troca de roupas. 

Sem necessidade de título.

Canta-me com tua voz melancólica
Toca-me a gaita da nostalgia
Faça chorar o violão de tua realidade

Em tua música vejo-te implícito
Caminhas pela partitura de teus desejos
Procuras algo surpreendente e não achas

Levanta-te desse chão frio
Toma teu café,
Teu leite com vodka
Esquece das visitas

Essa tua vontade de socar a parede
De matar a ti mesmo
Esquece isto e canta.

Canta-me com tua voz aliviada
Toca-me a gaita sem desespero
Faça gargalhar o violão de teus sonhos


(13/08/10) - Ninna Abreu

Um tempo depois...


Sim, eu fiquei ausente por muito tempo. E não vou mentir, foi por falta de vontade e criatividade mesmo. Mas aqui estou eu, sem muitas novidades e cheia de decepções. A escola anda bem, para quem quer saber... Os amigos também, apesar de não ter mantido contato com alguns deles da forma que eu gostaria. Tenho lido alguns poucos livros, me apaixonado por José Saramago (foto) e Lygia Fagundes Telles, construído paredes ao redor de mim.


Perdi amizades significativas para mim e me vi cercada de novas pessoas maravilhosas. De qualquer forma, não há muito o que comentar. Então só uma reapresentação minha, ou melhor: uma apresentação sobre a nova eu. Soou muito idiota isso, ai que absurdo. O drama em pessoa, palavras sem sentimento, paradoxos e hipérboles... Essa sou eu.

Se você acompanha esse blog, você é único, e notará que meus textos mudaram um pouco. Se não atingiram a maturidade, logo atingirão.

Bom dia, boa tarde, boa noite.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Try to understand

Não vale a pena entender meu passado que antecede meus “promissores” dezesseis anos, que foi quando conheci a pessoa que destruiu todos os muros e barreiras por mim construídos. Cabelos e olhos castanhos, não muito alta e nem muito magra... Não chamava a atenção dos outros garotos, apenas a minha. Meu único oponente era eu mesmo e meu orgulho inabalável, ou quase inabalável. Grande palerma que eu era, sim.

Não vou mentir e dizer que foi amor à primeira vista, porque quando conheci Hoo nunca pensei que me apaixonaria por ela, de modo que nunca fiz real esforço para que ela se apaixonasse por mim. Considerava-a apenas minha grande amiga, claro que com a liberdade de poder beijar-lhe os lábios. Foram poucos beijos antes de serem reais e nem mesmo a intensidade foi igual depois de mostrarmos nosso verdadeiro interesse um pelo outro.

Naquela época eu me drogava, mas não o suficiente para não conseguir pensar e julgar a humanidade como medíocre e hipócrita. Gastava minha mesada comprando meu baseado uma vez por mês e já não necessitava de mais um pouco. Tenho orgulho de poder dizer que não era nenhum junkie descontrolado e poderia parar quando bem quisesse.

Percebi o quanto amava Hope quando ela me ligou dizendo que estava namorando um tal de Giordano. Eu estava meio chapado na hora e acabei por lhe desejar um parabéns seco e irônico antes de desligar na sua cara. Lembro-me de ter destruído meu quarto naquele dia, quebrando luminárias, chutando minha cama, rasgando e jogando papéis pelos ares... E depois de quebrar tudo o que tinha direito, passei a socar a parede com toda a força que me restara e só consegui parar quando meu punho começara a sangrar, nisso eu caí de joelhos no chão e passei a chorar em uma mistura de tristeza e ódio.

No dia seguinte acordei com uma dor de cabeça dos infernos, atrasado para a aula e em um humor totalmente blasé. Eu estava insuportavelmente desinteresse em qualquer outra coisa que não fosse meu café. Antes que comece a se perguntar, esse meu vício começara aos quatorze anos de idade, e o mesmo só acabou no dia 13 de março de 2009, em meus vinte e nove anos. Retrocedendo a minha dissertação, cheguei atrasado para a segunda aula e só pude entrar em sala no terceiro horário.

- Olá, Sr. Hedberg, pode entrar e se sentar. – Era o professor de Sociologia, Hensel Stoll. Não é o melhor nome do mundo, de fato, e o homem certamente gostaria de dar sua aula sem minha “agradabilíssima” presença, mas era a única aula que eu gostava de participar, já que sabia como deixar o professor calado sem levar advertências com a desculpa de que é apenas a minha opinião.

- Eu não pedi licença para que o senhor pudesse me concedê-la. – Retruquei, presunçoso. Se não entendera antes, agora sabe o porquê de meu ex-professor me repugnar tanto.

- Oras, não vou comprar briga com o senhor! – Era engraçado vê-lo se irritando – e nada raro -, suas bochechas e testa ficavam gradativamente vermelhas, seus olhos castanhos estreitavam-se, seus dentes cerravam e sua mão passeava inquieta e inconstante pela careca oleosa.

- E eu não estou vendendo... – Meu tom de voz saíra parecido com uma justificativa irônica. Então levei meus cadernos e sarcasmo até a única mesa vazia da sala, que ficava atrás justamente da carteira de Hope. Animada, como sempre, virou-se para falar comigo.

- Parece que hoje terá a festa de Jake, você vai precisar de carona? Porque Gio vai passar lá em casa e podemos levá-lo também! – Dizia, sorrindo o sorriso mais gracioso e perfeito que eu já vira, mas eu tinha que ser um babaca.

- Ah! Claro! Aí eu vou dirigindo para que você e “Gio” se agarrem no banco de trás! – Eu falei, com uma falsa empolgação, jogando todo o veneno que eu tinha. A expressão de Hope foi de devastação naquele momento.

- Eu esperava mais de meu melhor amigo. – Típico. Melhor amigo não era exatamente como eu gostaria que ela me descrevesse.

- Oh! Está querendo meus sentimentos? Desculpe-me, mas deixei no bolso da outra calça... – Sarcasmo pesado o por mim utilizado, mas ela tinha que entender o quão indiferente eu me sentia com relação a ela, mesmo que fosse uma mentira.

Sabe qual era o fato mais irritante daquela situação? Giordano era o tipo de atleta famosão da escola, playboy mesmo. Era o tipo de estereótipo que eu mais repugnava! Havia a certeza de que ele não era o cara certo para ela, só que essa certeza não era percebida pela vítima em questão, Hoo.

Eu o odiava, parecia que todas as vezes que eu encarava o “casal” eles estavam se acariciando ou, pior, se agarrando. Já não agüentava mais ter que aturar aquilo e jogar constantes indiretas para a garota que eu amava já não era tão divertido. Então passei de um implicante mal-humorado para um blasé máster de vez, o que não fez de mim pronto para futuras conversas constrangedoras.

- Greg, você gosta de mim? – Estávamos voltando para casa, a pé e sozinhos, como sempre. A volta para casa era o único momento do dia que eu esperava com fervor, já que era o único momento do dia em que eu tinha um tempo a sós com Hope.

- Não, é que sou masoquista e falar com você é a maior tortura que existe. – Qualquer outra pessoa reviveria os olhos e embirraria comigo, mas a garota baixinha ao meu lado já sabia meu jeito de ser.

- Não, não... Quero saber se... Se me ama. – Meu ponto fraco. O que dizer? “Não, nem amo”? Já mentira muitas outras vezes, porém aquilo era diferente. Não era algo que eu pudesse mentir, então eu apenas daria outra possibilidade. Eu sabia que ela me perguntara aquilo não por acaso, mas por eu ter me intrometido em seu namoro.

- Já pensou que talvez eu faça isso apenas por ser um cretino que gosta de acabar com a felicidade alheia? – Lancei um sorriso de lado e ela parou fitando-me com curiosidade enquanto eu continuava a andar, deixando-a para trás. Não a vi mais aquela semana, provavelmente por ter faltado os outros dias com intoxicação alimentar. Malditos camarões.

Foi na sexta-feira, depois de vomitar todo o meu almoço, que recebi a carta que mudaria todo o meu comportamento para com Hope, ou talvez parte dele. Eram belas e sinceras as palavras e eu lia tudo com a perplexidade ao qual eu fora submetido. Novamente eu chorei pela garota que não me oferecia mais que sua amizade.

Sábado eu levantei cedo após rolar na cama a noite inteira, algo que já era rotineiro para mim. Tomei um banho, deixando as gotas de água atingirem com força minhas costas, todas me repreendendo e julgando com severidade. Meus pensamentos eram de auto-flagelamento e questionamento, minha mente trabalhava ignorando qualquer sentimento ou emoção, tentando escutar a voz da razão como sempre aconteceu.

Saí do banho e encarei o espelho, percebendo em mim mesmo cada detalhe insignificante, a barba mal-feita, espinhas na testa, um cacho rebelde, uma pinta no pescoço... Eu era uma pessoa tão tosca, no sentido mais literal da palavra, tão imperfeito... Claro que me surpreendia ao ouvir risadinhas femininas quando passava, ou ao notar como as camisinhas de minha carteira acabavam com tanta velocidade. Quando foi mesmo que o padrão de beleza mudou que não me avisaram?

Vesti-me como sempre, já que momentos eram momentos e não existiam exceções para os especiais. Uma camisa social, jeans e meu inseparável par da converse all star, cano médio, preto, surrado. Sabia que encontraria com Hope ao lado de Giordano, mas não achei que o clima entre eles estaria tão tenso.

- Quer dizer que sou o cretino da sua vida? – Claro que fiz de propósito, só para piorar a situação em que os dois pareciam se encontrar. O olhar de desaprovação de Hope apenas me incentivara, principalmente quando combinado com a aparente indignação de seu companheiro. Eu apenas sorri em sinal de diversão – Ora vamos! O que há com os dois? – Eu sabia que não era algo “com” os dois e sim “entre” os dois. E esse “algo” chamava-se Gregory Henry Hedberg, e faria qualquer coisa para acabar com o namoro deles. – Inclusive, esse seu decote me seduziu demais, Hoo. – Foi algo realmente rápido o soco desferido contra meu nariz. Talvez eu tenha parecido meio maníaco rindo enquanto saía sangue de minhas narinas, mas não consegui me segurar. – Ela só está com você para fazer ciúmes em mim, sua anta! – Minhas palavras eram cruéis e eu gostava daquilo.

- Isso é verdade, Hoho? – Quase vomitava ao ouvir esse apelido ridículo. Parecia uma imitação mal-feita do Papai Noel! – Você realmente queria fazer ciúmes nesse nerd anti-social? – Levei aquilo como um elogio e observei a cabeça baixa de Hope balançar positivamente, parecendo totalmente constrangida. – Então... Esqueça-me! – Ele dizia como se fosse algo difícil e deprimente. Giordano saiu e ficamos apenas eu, Hoo e suas lágrimas.

- Acho que podemos nos resolver agora, não é? – Perguntei encarando-a com um sorriso, mesmo tendo meu nariz sangrando terrivelmente.

- Você é desprezível! – Ela disse, virando-se para a rua e caminhando amargamente. Levava com ela meu orgulho e determinação, eu tinha que impedi-la.

- Diga-me algo que não sei! – Gritei em resposta, que parara de súbito. Nunca percebi de fato a força de minhas palavras até aquele momento, e nunca percebi como essa força podia esvair-se com tanta facilidade. O olhar de Hope tirara minha respiração, suas pernas tomando velocidade ao meu encontro acelerara perigosamente meu coração, mas apenas seus lábios aos meus em um beijo sincero conseguira fazer o que nenhum outro gesto de nenhuma outra pessoa conseguira anteriormente: parar por completo meu raciocínio.

- Eu te amo, mesmo que seja esse babaca inútil que você certamente é. Como está na carta: “Você é o cretino da minha vida.” – Isso sim era uma novidade e tanto.

---x---

Desde aquele sábado inesquecível eu namorava Hope da forma que achava correta, ou seja, com reciprocidade. Éramos felizes de certa maneira, mesmo que a palavra “feliz” não seja muito adequada para me descrever.

Eu encarava meu reflexo no espelho mais uma vez, reparando em cada mísero detalhe, como em meus dezesseis anos. Mas eu já não era aquele adolescente com espinhas no rosto e dúvidas na cabeça, já havia me tornado um adulto cheio de preocupações. Eu me reprovava arduamente por ter sucumbido ao consumismo e capitalismo, por não ter realizado aquele sonho adolescente de viver de música, mesmo que em condições precárias.

A barba mal-feita dera lugar à falta de desleixo, as espinhas foram substituídas por uma pele madura, o cacho rebelde já não existia, esquecido entre os pouquíssimos fios brancos que eu já conseguia encontrar entre a cabeleira negra. Apenas a personalidade fora salva de uma mudança drástica... O mesmo cretino sarcástico e sádico, o mesmo vício no sabor do café e a mesma lógica e opinião sobre o mundo.

- Bom dia, meu amor... – O tom sorridente e colorido de Hope já não me animava como antes, apenas aquecia fervorosamente meu interior. Os anos que se passaram não foram nada cruéis com a aparência da mesma... Continuava linda, mesmo que tenha tido algumas mudanças significativas. Os braços de minha adorada envolveram-me e eu lhe dera um sorriso pelo espelho em resposta. Seus lábios tocaram meu ombro despido antes que eu pudesse observá-la adentrando o chuveiro. O estresse que envolvia aqueles meus vinte e sete anos e o tédio daquela rotina ridícula consumiam meu espírito.

- Vai sair hoje? – Eu perguntei encarando a pia suja de pasta de dente. Minha vida era tão medíocre que chegava a me enojar, tendo em vista que eu ainda não queria fazer parte daquela sociedade que se achava tão superior, mas não passava de pura hipocrisia.

- Ah! Acho que vou... Tenho que reabastecer a geladeira. – Morávamos juntos desde dois mil e cinco, tínhamos nossos sagrados vinte e cinco anos, a idade em que descobríamos uma nova vida conjunta. Ela se mudou para meu apartamento logo após eu convencê-la que casamento era algo ridículo e totalmente desnecessário. Até hoje penso que não a convenci de fato.

Alguns minutos depois eu estava trancando a porta para a mulher que roubara o lugar de minha pequena e frágil menina. Sua mudança não era apenas física, como ocorreu comigo. Diferente desse que vos escreve, ela havia se adaptado e conformado com a vidinha que levávamos, trabalhando meio período e passando o resto do dia jogando Magic entre beijos e lençóis. Mas algo mais havia mudado em seu comportamento, pelo menos naquela última semana eu sentia ter deixado algo escorregar por entre meus dedos, e por mais que eu apertasse as mãos fechadas, a informação escapava por elas sem qualquer cerimônia. O que meu belo Waterloo estaria escondendo de mim? Não foi nada agradável descobrir...

- Greg! Voltei! – Sua voz ecoava pelos aposentos até meus ouvidos, sendo que eu não estava tão longe da postar. – Oh! Aí está você! Como foi passar a manhã de... Ei! O que é isso que está segurando?! – Sua voz afinara terrivelmente, denunciando seu nervosismo. Ela tomara de minhas mãos o exame de gravidez de resultado positivo.

- Aborto. – Minha única declaração sobre aquilo. Eu não saberia cuidar de uma coisa rosa que só sabe chorar, urinar, defecar, comer e dormir. Paternidade nunca fora exatamente meu estilo e isso não mudaria porque Hope queria brincar de casinha. O que mais me deixara puto foi o fato de que ela havia planejado aquilo, sem mim. Eu não admitiria tal insulto.

- Não quero matar meu bebê! – A insatisfação que ela exalava era tão grande que quase me era palpável. Revirei os olhos para tamanha insolência com indignação e cruzei os braços.

- É um feto. – Comentário de um estudante de medicina, ela deveria ouvir.

- Um bebê! – Sua insistência dava-me náuseas e ficaríamos naquela discussão o dia inteiro por sermos tão teimosos. Eu não queria um filho! E já dei todas as explicações possíveis para tal.

Hope abortou. Hoje eu me arrependo de não ter tido aquela criança com minha amada, talvez pudéssemos ter salvo algo que certamente morreu naquele dia, e não estou falando do feto.

Dois meses se passaram, a vida correndo normalmente. Eu cantando “Show me how to live” pelos cantos e Hope fitando-me com a insanidade de uma mão que comprometeu a vida de seu filho. Eu já havia superado aquela crise, mas Hoo não parecia nada contente comigo. Ela queria o quê? Uma família? Comigo? Ah! Faça-me um favor.

Voltamos a nos falar direito no terceiro mês, e nesse terceiro mês fizemos as pazes sobre a cama, implorando o perdão um do outro com um quê de falsidade e ironia, apenas para agradar o companheiro e conseguir extrair o máximo de prazer que sabíamos poder proporcionar e receber.

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Aquela rotina matava uma célula minha por vez, que não era substituída por outra mais tarde como de praxe. Eu sentia que estava falecendo mais rápido que as outras pessoas, mesmo que tal suposição não fosse real. Hoo percebera o aumento de meu desânimo, que estava muito maior que o habitual.

- Gregory... Te achei em mais um artigo da Wikipédia. – Ela me entregou o notebook aberto na página do site famoso entre os preguiçosos onde se lia “mortiço”. Sabia o que ela queria e acenei um “sim” com a cabeça, fechando o computador. – O que você tem, meu amor? – Perguntou acariciando meu rosto, pensativa.

- Falta de sexo, querida. – Brinquei beijando seus lábios e depois me levantando do sofá. – Vou fazer uma caminhada, não me espere. – Saí pela porta e fui andar pela rua de nosso prédio. Olhava para o céu nublado, imaginando que talvez ainda houvesse um resquício de penumbra na rutilação. O pio de mim mesmo acanhava os outros, mas eu não ligava, nunca liguei, algo deveras preocupante.

Não vi o carro subindo o meio-fio, apenas senti uma forte pressão nas minhas costas seguida de uma buzina desesperada. Eu não gritei. Morri calado como nasci.

Aqui estou eu agora, observando Hope de uma distância não muito grande. Ela está acompanhada de um provável namorado, o que está me irritando terrivelmente. Hoo visita esse cemitério todo sábado, encara a lápide com meu nome gravado, e se vai logo depois. Não, não fui cremado, o que não faz muita diferença para mim. Já convivia com vermes em vida, em morte era apenas meu corpo que estava rodeado deles.

Encaro Hope pedindo ao namorado que a espere no carro, e agora ela se aproxima fitando meus olhos, ou pelo menos através deles, já que estou em um tom mais diáfano por não passar de um espectro.

- Greg... – Ela diz, surpreendendo-me como sempre. Sinto que ainda existem pendências a serem resolvidas, talvez seja por isso que ainda estou aqui. Talvez seja por isso que ainda posso encarar Hope e dizer a frase mais certa que conheço, esquivando-me de minha mitonamia.

- Eu te amo. – Minha última fala antes de Hoo levantar a mão para me esbofetear. Ela hesita, com a mão ao alto, e não consegue concluir seu ato. Agora a vejo partindo inconformada, com lágrimas nos olhos. Seu gesto disse tudo o que palavras não conseguiriam exprimir. Eu deveria partir... Só não sabia como.