- Olha isto. - Estavam sentados embaixo de uma árvore grande, de tronco largo, folhas de um verde ensurdecedor. Sim, ensurdecedor. Era como ela via, um verde que de tão vibrante gritava-lhe a vivacidade de um dia único. Nas mãos dele, uma joaninha, caminhando para o outro lado, atravessando aquele mundo de epiderme.
- Uma joaninha, que tem de mais? - A frieza da voz da jovem era tamanha, espantou-o. Balançou a mão até o inseto cair, levando consigo seu ânimo. Um cão corria pelo parque municipal, a cena era perfeita. Parecia um quadro, ou uma fotografia... Ela adorava fotografias. Trabalhava com isso, ele sabia, tinha quatro câmeras: uma polaroid, uma profissional, uma de filme e uma digital. - Que sorriso é esse? - A pergunta saiu bruta, como uma faca de serra para cortar a lasanha.
- Estava lembrando... - O dia em que entrou na sala escura dela e ligou a luz. Nunca a tinha visto tão furiosa. Tão bela, esbravejando, chorando e chutando suas canelas. Ele também começara a sorrir, encarando-a estupefado. - Com raiva você fica mais bonita. - Aproximara-se e dera um beijo em seus lábios, e logo ela também sorria, mais debochada e irônica do que de fato feliz. Não que ela não estivesse, ela estava.
No momento havia uma ponta de dor entre os dois, como a visão de um iceberg ao longe que ainda não fora descoberto. Ela deitou sua cabeça no ombro do jovem, encarando a árvore de folhas gritantes, desviando do iceberg. - Eu te amo, sabe? - A frase, pela primeira vez, soara sincera.
- Sei. - Tanto quanto ele a amava, mas não o disse. Levantou-se e saiu, deixando-a sozinha com aquela foto que ela tirara em um dia qualquer.
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