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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Telefonema

Fotografia por Isa Valença


Alô? Tudo bem? Ah... Meio indo, meio vindo... Sabe como é, não sabe? Acho que estou um pouco perdido nessa história toda de viver, só isso. Eu sei, sei que ‘tá errado. Sim, eu sei. É que... Não é nem por ela não olhar mais pra mim. Não é nem por ela não pensar mais em mim, não é isso. Não é nem por ela. Eu só estou meio assim... Cabisbaixo. Poxa, eu disse que não é por ela. Eu estou triste, só isso. Estou sozinho assim... Ninguém me chama de Baudelaire. Não, não é por ela. Ela não me chamava de Baudelaire, isso é um poema. Procura depois, é bonitinho. Se gay for alguém apaixonado, sou gay mesmo. Não, cara, não gosto de homem. Minha cabeça ‘tá doendo. Daqui a pouco vou dormir, só liguei porque... Eu preciso de um conselho, sabe? Como faço pra esquecê-la?

sábado, 19 de janeiro de 2013

Sobre Anita


- Minhas unhas estão azuis. – Anita passa alguns minutos encarando suas unhas. Compridas, feitas por ela mesma. Ela gosta da cor que escolheu, vez ou outra até sorri. Anita encara o relógio. – Já é o dia seguinte... – E ri alto. – Essa observação é chata, não é? – A risada cessa, mas o sorriso continua. Limpo, brando.

- Acho que a senhorita andou lendo livros demais... – Seu gato marrom mia isso debochado. Reviraria os olhos, se pudesse. – Está agora parecendo Alice. Até os nomes são parecidos. – Ele sobe em seu colo e lambe a pata dianteira. Anita imagina que talvez Rimbaud estivesse certo, já ela estava a falar com gatos.

- Mas olhe, Rimbaud! – O gato a encara, como quem espera. – Minhas unhas estão azuis! – Rimbaud desce de seu colo e sai do quarto, demonstrando o mais profundo desinteresse. Anita se levanta e sente o quarto todo menor. – Para mim isso era maior... – Ela comenta em voz alta, inspecionando o cômodo com o olhar. Não demora muito para ela sentar novamente. – Talvez um pouco de Tchaikovsky.

A música invade o ambiente e torna-o maior novamente. Ela sorri, como sempre faz, deleitosa. As paredes piscam, ora rosa, ora verde. De quando em quando exprimem um laranja forçado. Pega o papel que parece endurecer em sua mão. – Rimbaud! Rimbaud!! Corra aqui, preciso de ajuda! – O gato vem correndo, pulando, quase caçando. – Onde está a caneta?  A caneta fugiu de mim, Rimbaud! – Lágrimas aparecem, espantando o sorriso. Mas foram rápidas.

- Aqui, aqui está a caneta. – Rimbaud brinca com uma BIC aos pés de Anita, que a pega secando o choro de quem não está mesmo assustada. Escreve qualquer coisa no papel duro e mostra ao felino marrom, que levanta a cabeça para dizer-lhe: - Isso já existe. – Ela coça o queixo, interrogativa. – “If you want to sing out, sing out! And if you want to be free, be free...”. – Canta Rimbaud, disfarçando o mau humor. – Você só traduziu.

- Poxa vida! – Ela risca sua tradução idiota e rabisca o desenho de um gato rabugento. – Olha, meu bem, é você. – Rimbaud mente um sorriso e passa a lamber suas patas traseiras. Anita volta-se ao papel duro e à caneta perdida para repetir frases de sonho. As paredes piscando. Verde... Rosa... Laranja. E quem queria ser Anita, finalmente vira Júlia.


O gato a encara e ao invés de falar, solta um miado. As paredes são brancas novamente. Tchaikovsky, quiçá, nunca tocara. Júlia amassa o papel, acorda, encara as mãos e constata: - Minhas unhas estão vermelhas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

bia boa bela bia


Bianca Galdino

bia bonita
me serve esse lapso

 loucura remota
que foi e será
o ácido da aurora

bia de ancas douradas
e costas de prata

fumaça dançante
de olhos vagantes

biapaziguada

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sinto falta.

Fotografia por Isa Valença

- Ei! Não chora, não, meu bem… Olha só, eu te trouxe um presente. – A garota tirou do bolso um pacotinho cintilante, entregou para o rapaz e sorriu um tanto impaciente. – Vamos, vamos! Abre. Você vai gostar. – Sentou-se ao seu lado e esperou ansiosa.

O jovem, secando as lágrimas, abriu o pacotinho, e uma luz forte invadiu seu campo de visão. – O que é isso? – Perguntou ele, ainda triste, mas visivelmente maravilhado. Ela riu e encostou a cabeça no ombro do amigo, tirando o fogo intenso de dentro do pacote. – É meu beijo em forma de estrela. – Levou a chama até o peito do rapaz e os dois ficaram observando o crepitar delicado daquela pequena estrela. – Achei que elas fossem maiores. – Ele disse pousando um dedo sobre o brio infinito daquela coisinha miúda. Ela se levantou, rindo divertida. – Não, só as do céu. As estrelas que sentimos são assim, pequenininhas, bem frágeis. Eu estou te dando uma minha… – Voltou-se para ele com um sorriso leve. – É uma bem importante. Ela cresce dependendo do que você faz com ela. Mas se você não a quiser… Não se preocupe, ela não vai se apagar tão rápido. Você ainda vai poder admirá-la por um tempo, ela se esvanece lentamente. 

Ele pareceu preocupado, encarou a estrelinha em sua mão, tão brilhante, tão pura… – Eu não sei se você deve me entregar isso. – Ela fez um gesto despreocupado e ajoelhou-se à sua frente. – Você precisa sair um pouco dessa escuridão, sabia? – Aproximou-se e beijou seus lábios, de uma forma tão delicada quanto a estrela que estava na mão dele. O brilho aumentou sutilmente e dois sorrisos se fizeram. – Acho que o calor da sua estrela secou um pouco das minhas lágrimas.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Extroversão

Fotografia por Pedro Santos e Isa Valença


“Perdeu a pose.”
E penso:
- Mas ganhou charme.

E que charme! Que encanta, provoca, atiça e desliza... Não desmerece a estima. Mas que charme, ein?

“Perdeu a pose.”
E jogo:
- Mas ganhou força!

Força de rua, costas nuas, viro sua... E o compasso é valorizado em passos de vagabundo clássico. Mas que força, rapaz!

“Perdeu a pose.”
E me ouço:
- Perdeu nada...

Que pose não é mérito e esse tititi de revista de fofoca só faz da gente menos gente. Vamos ao natural, descer do salto e tirar a gravata! Sua pose, moço, é na cama.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Histórias de amor duram apenas noventa minutos.


Caio Blat em Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos


A verdade é que apaguei tudo o que escrevi. E talvez seja melhor assim. Mantenho o título, mantenho esse pedido de desculpas por não postar o texto original, mantenho as bochechas vermelhas de vergonha por sentir algo tão engraçado. Eu falei pouco? Falei muito? Eu falei? Nem lembro... Deixo quatro versos.

O encarar perfurante
não queria me largar;
ou talvez quisesse,
e eu não deixava soltar.

Acho que o detalhe maior está nas minhas bochechas vermelhas e na sua risada pós-olhar. Timidez conjunta, quem sabe? Eu romantizo até amizade, espero que me perdoe. A realidade é mais difícil de ser descrita que a ficção, haha. Aos meus leitores, se realmente tenho algum, eu acabo por aqui... Feliz ano novo.

A você, peço um reencontro. Conversar foi bom.