Vi hoje os pardais sobrevoando as flores
coloridas que certa vez foram plantadas por nós. Visitei as lembranças mais
claras, delicadas, desenhadas e emolduradas que tenho... Pintadas de rosa
pastel. A declaração que tenho é de simples amor, mesmo que as flores plantadas
sejam invenção minha. Invenção nossa, eu diria. Um casal de poetas tem muito
disso, não é? Flores inventadas e lembranças pintadas de rosa pastel. Dói agora
saber que sua pena está longe da minha tinta e nosso caderno guardado até nos
reencontrarmos. Amor! AMOR! AMR... ar. Eu sinto falta de ar. A cada segundo que
passa eu retomo seus olhares, seus sorrisos e seus beijos... Seus abraços. Mas
não esvaneceremos como um dente-de-leão.
Ouvi hoje, um pouco antes das cinco da manhã,
um grito desesperado de criança. Era um rapazinho perdido em uma rua escura e
fria, longe de mim. Grito agudo de criança. Acordei procurando o despertador,
achei que ainda ouvia o grito, mas não... Não era. Desdenhei minha pouca
percepção e voltei a dormir para logo acordar novamente e notar: não o veria
mais... Não agora, não tão cedo, nem dali oito horas. Não o vejo agora. Não o
tenho contra meu peito, mesmo que em lágrimas. Dói. Ar! AR! AMR... amor. Eu
sinto falta do seu amor pertinho de mim. Sussurrando em rosa pastel no meu
ouvido sobre os pardais que sobrevoam as flores coloridas que havíamos plantado
mais cedo! E a sua preocupação... De que os pardais virassem corvos.
Os nossos pardais nunca poderiam virar corvos.
Nunca.
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