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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Zahir


Dois olhos castanho-avermelhados distanciam-se num mundo de pessoas acinzentadas e sem o mínimo de poesia. Esse mesmo par de olhos agora me encara, desdenha-me e desama-me com perdidas olheiras de desalmados pesadelos. Reviram-se, os olhos, como se sua dona também o fizesse em seu interior de vinho tinto. Suavidade quase pura em caos.

Sim, caos. O caos dessa experimentação idealizada por ela mesma, dois anos atrás. E eu o sei por ambientalizá-la em meus maiores e mais profundos desejos de homem; e em meus desejos ela atua, nua e crua, seu próprio monólogo de equilibrista do nosso conjunto emocional. Porque ela é, ao mesmo tempo, a bêbada e a equilibrista. Seu olhar trôpego desmente sua inocência facial; e a menina-mulher com olhos de vinho tinto e cabeça de uísque detalha em si a nuance da vida. 

Sei que o silêncio que se faz é irreal, sendo algo criado pela minha mente inventiva; mas parece tão verdadeiro, como se o mundo se tivesse calado para ouví-la, atriz, em seu próprio silêncio de cinema mudo. Canto por lábios fechados, para não lhe atrapalhar, uma cantiga vermelha em homenagem ao castanho de seus olhos lapidados. Fui rejeitado com uma desvio de olhar e um sorriso debochado dirigido a outro que não eu. Minha atriz se desfez em acinzentada gente vestida de cotidiano, o burburinho de fim de tarde foi retomado.

Brilha, brilha
Estrelinha
Que minha dama
Se apagou.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cantiga de Vernalagnia

O homem mais belo
Que me passou por essas ruas de inverno
Que desenhou com seus passos o carpelo
Mais lindo de todas as cores... Vivas...

Poesia portanto
Em risos largos de encanto
Com esse vasto olhar dançando
Lá se foi o pormenor das dores... Frias...

Foi só chegar perto de mim
Já desdenhei qualquer menor alecrim
Porque só com ele pude me fazer feliz
Simplicidade cantada em meio a flores...
Minhas...

Suas...
Nossas...
Dessa bela vida.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A meiguice das palavras e do amor.



Então começo a escrever e as letras vão juntando-se umas às outras. Não dá para perceber quando acontece... Simplesmente é assim. E quando me dou conta, já é tarde de mais, e já está tudo misturado, unido na confusão que é a minha mente, mas no esplendor que é a minha alma.

Não sei se escrevo para você ou para mim, sei que escrevo. Sei que gosto disso. Há algo nessa confusão de palavras cruzadas, transadas e sortidas que me leva ao fascínio. Eis que beijo a folha e choro. Lágrimas de satisfação, de amor. Lágrimas untadas às palavras num alívio de poder me expressar.

Talvez minha inspiração seja seu belo sorriso de senhor da graça. Talvez não exista esse negócio de inspiração. É, é isso mesmo. Inspiração é desculpa de quem não acha o que escrever. O que existe é o amor. Amor pelo que se faz. E vontade.

Sabe qual a minha vontade agora? Seus lábios, seus braços, seu pescoço, seu peito, seu sexo, suas mãos... Seu toque. Você. Minha vontade é sempre você. Meu amor é sempre você e esse seu amor. Minha vontade é a sua vontade por mim. Ah! Como é maravilhoso te ter comigo, meu bem...

Não deu para perceber quando aconteceu o meu amor por você... Simplesmente foi assim. Como escrever. E quando me dou conta, já enchi a página de palavras do mesmo modo que já te enchi de amor.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Como um dente-de-leão.



Vi hoje os pardais sobrevoando as flores coloridas que certa vez foram plantadas por nós. Visitei as lembranças mais claras, delicadas, desenhadas e emolduradas que tenho... Pintadas de rosa pastel. A declaração que tenho é de simples amor, mesmo que as flores plantadas sejam invenção minha. Invenção nossa, eu diria. Um casal de poetas tem muito disso, não é? Flores inventadas e lembranças pintadas de rosa pastel. Dói agora saber que sua pena está longe da minha tinta e nosso caderno guardado até nos reencontrarmos. Amor! AMOR! AMR... ar. Eu sinto falta de ar. A cada segundo que passa eu retomo seus olhares, seus sorrisos e seus beijos... Seus abraços. Mas não esvaneceremos como um dente-de-leão.

Ouvi hoje, um pouco antes das cinco da manhã, um grito desesperado de criança. Era um rapazinho perdido em uma rua escura e fria, longe de mim. Grito agudo de criança. Acordei procurando o despertador, achei que ainda ouvia o grito, mas não... Não era. Desdenhei minha pouca percepção e voltei a dormir para logo acordar novamente e notar: não o veria mais... Não agora, não tão cedo, nem dali oito horas. Não o vejo agora. Não o tenho contra meu peito, mesmo que em lágrimas. Dói. Ar! AR! AMR... amor. Eu sinto falta do seu amor pertinho de mim. Sussurrando em rosa pastel no meu ouvido sobre os pardais que sobrevoam as flores coloridas que havíamos plantado mais cedo! E a sua preocupação... De que os pardais virassem corvos.

Os nossos pardais nunca poderiam virar corvos.

Nunca.

Amor em dobro.



tenho um amor dobrado
jovial, pleno e encantado
de sorrisos cobiçados
em fotografias marcado

desenharam-me a paz d’alma
santa em cachoeiras de calma
em pés e mãos e palmas
com a pele pouco alva

é a morenice da família
gestos e cantos, tudo brilha
que derretem a gargantilha
soltando-me para a harmonia

tenho um amor dobrado
feito em dois corações acordados
nasceram juntos de carinho amontoado
na arte de espírito e malabares encontrados

vejo daqui
o bem-te-vi
e tatuados no que diz
Amy, Dalí


(Fotógrafos: João Paulo Vieira Borges e Paulo Ricardo Vieira Borges. Talentosos e meus musos para o poema AWN q)