Estar feliz é uma sensação estranha. Um
comichão diferente, agradável... Eu não chamaria de prazeroso, contudo. Se bem
que já não tenho certeza, faz tempo que não me sinto realmente feliz. Não é que
eu goste de estar triste, não. Ninguém gosta de estar triste. O que ocorre é
que acostumei com o que gosto de chamar de depressão não-diagnosticada. O não
estar bem, aquele sentimento de vazio dentro do peito e da mente, aquele
sorriso debochado na frente do espelho, “ah, é só mais um dia”, tudo ao som de
Joy Division, The Smiths, Nirvana e, pasmem, até mesmo algumas músicas dos
Arctic Monkeys.
Quando penso em felicidade, lembro de nós dois,
eu sentada no chão e você com sua cabeça deitada no meu colo enquanto te faço
um cafuné. Dois amigos, não mais que isso. E eu choro, minhas lágrimas caem no
seu rosto, você não liga. Você não liga porque já está acostumado a me ver
chorar, já está acostumado a me ajudar, e aliás, você gosta disso, gosta de me
ver bem depois. Assim como eu gosto de te ver bem. Minhas mãos passam por seus
cabelos e você fecha os olhos, como se fosse dormir para sonhar com algo melhor
do que nossas vidas.
É bom te ver cochilando, sereno. Curvo-me para
beijar sua testa e logo volto a fazer carinho em seu cabelo, seu rosto. Então
começo a pensar na minha vida e tudo de errado que acontece nela, tantos
pensamentos, questionamentos, tanta coisa que nem reparo que parei de fazer-te
um cafuné, estou apenas com a mão em cima da sua cabeça. Isso te acorda, e você
sabe que estou pensando novamente em deixar tudo para trás, em deixar a vida
para trás e partir para sempre. Ou pelo menos parece saber porque está aqui,
está sentado, me abraçando, me acolhendo.
Quando penso em felicidade, penso que você me
apoia, me entende. Minha felicidade, essa momentânea, é pequena, curta, mas
existe, mesmo que exista só um pouco. E você está ali, tentando sentir metade
do que sinto, se corroendo para ter o que falar, para me deixar melhor, mas
palavras não são necessárias. Não, não, desde que você esteja sentado,
abraçando-me, beijando minha testa longamente com uma das mãos acariciando meus
cabelos, assim como está agora, palavras são completamente dispensáveis.
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