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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Faca, vaca, treco.


Observação  inicial: Leia esse texto antes.

É esse olhar vazio que me tortura diariamente, esse descaso para com o que temos. Queria quebrar meu copo em sua cabeça estúpida lotada de questionamentos inseguros. Conheço bem o dono das ideias temperamentais, querendo ser mais e vindo a ser menos. Sorri quase em desespero, encarando aquele monte de merda humano. Traste! Como ousava? Como ousava encarar-me lascivamente com aqueles olhos negros de desdém? Seus lábios rachados e mordidos doíam-me de ver, doíam-me de sentir. Aquela falta de sorrisos e exagero de pensamentos indecifráveis, mas imagináveis, faziam-me mal. Ele, como parceiro, é ninguém. Por que fui meter-me a querer alguém tão constante? A essa constância chamo de loucura, pois o humano é feito de erros, e esse meu parceiro, esse meu ele, já passou a cometer erros como sua própria constância. Loucura paradoxal costuma ser a pior delas.

O dia em que nos conhecemos, lembro-me bem, não poderia ser pior. Pareceu algo de minha cabeça, algo terrível de minha mente relaxada e indistinta. Sol queimando e de repente uma chuva intensa, ele de costas... O dia foi dos piores, simplesmente dos piores. E agora estava ali, de frente, no seco calado do nosso apartamento frio. A luz fraca obtida pela luminária da sala sempre foi a preferência, minha e dele. Mas ele deixou de importar há meses... E prefiro ver-me como única ali, solitária, já que a diferença entre a minha solidão e a presença dele é quase inexistente. Mas ainda aqueles lábios rachados. O desenho perfeito de seus lábios duros, inflexíveis, não me passam nada, não me passam o sentimento de segurança nem mesmo o desejo absurdo de beijá-los... O desejo absurdo de beijá-los... De tê-los... Não me passam nada! Porque tais lábios duros e inflexíveis contraem-se e repelem-me.

Vejo seus movimentos inconvictos e seus passos em falso, faz-me rir, faz-me bocejar, faz-me lembrar. Lembrar de como aqueles dias de atuação sexual entre nossos corpos eram fracos, poucos... Bons... Os dias parecem estar contados e eles se contam sozinhos. O fim daquilo seria meu começo, e o fim dele seria o passo inicial. Mas a dor de desfazer meu trabalho, a dor de vê-lo reconstruindo-se, essa dor é insuportável. Ele não merece um novo início! Ele não merece nada.

Eu odeio o modo como ele me observa, como se eu fosse uma presa. Ou como se eu fosse atacá-lo a qualquer momento. Como se eu pudesse esmagá-lo como se esmaga uma barata indesejada no carpete sujo da sala de estar. De fato, queria poder fazê-lo. Eu pedi um tempo a mim mesma e não soube me concedê-lo, agora estava perdida com aquela barata... Os que viam de fora, viam o casal perfeito. O casal sorridente e estupidamente feliz que anima a festa e cuida um do outro. Queria poder enxergar como os de fora enxergam, mas devo contentar-me com o fingir. E esse fingimento abastado, acho eu, engana a ele, como engana os outros. Tanto engana-o, que ele quer meu fim como quero o dele. Isso tudo é insano, não? Por quê, afinal? Por que odeio tanto sua pele quente junto a minha e seus olhos vazios observando-me no banho? Ou observando-me em qualquer lugar? Sentado naquela poltrona, olha-me como se bolasse um plano... Encara-me como se sentisse uma faca em meu pescoço.

Vivo com o inimigo, mas o tenho em minhas mãos. O controle é difícil, sinto-o quase escapando em diversas situações, de diversas maneiras. Meu suco já não tem gosto, esse suco que cheira a dor. Aquele ar pesado parecia quase sólido, e eu o respirava junto ao cheiro de dor que a falta de gosto trazia. Olhos negros encaram-me e meus lábios já estão sobre os seus, em um selo de desconfiança e asco. Era o momento... O momento crucial. Algo aconteceria e eu sentia tudo voltando, todo o ódio, toda a dor, toda a decepção de tê-lo e não querê-lo. Minhas mãos apertaram o copo de vidro, suadas e apavoradas... Era agora, eu só tinha que perguntá-lo, só tinha que acabar logo com aquilo.

- Quer também? – ...o fracasso me dói. 

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