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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Abandono



A doença raquítica do terror assombra a criança criadora
de tantos deuses pregadores do amor.

Minha alma carrega a tristeza de uma guerra
e seus corpos, seus gritos,
suas lágrimas de medo.
Minha alma carrega o peso das armas dos soldados do ódio
e seus olhos sangrentos, seus sorrisos culpados,
suas máscaras caídas.
Minha alma carrega a lama e a grana
daquela que parece valer mais que a vida,
a dor do que já foi doce, o rio das partidas.

Se fosse eu aquele deus

- por que me abandonaste?" -
de quem falam os "cidadãos de bem",
choveriam flores e velas a proteger os corações inquietos,
desolados, marejados, inundados e desamados.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Dia 15.

O tempo não   p a s s a   e eu esqueci meu caderno em casa.
Na verdade eu esqueci de propósito para ter uma desculpa para poder ficar pensando em você.
Em você e nos seus olhos.
              Em você e no seu sorriso.
                           Em você e na sua boca...
Macia, su a  v   e...
Lábios de quem pensa
            em amor.

Encarar seu rosto de amante me faz bem, então perdoe-me se encaro demais.
Fito-lhe a alma por encanto.
Já nos imaginou nus em Paris hoje?
Eu te amo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Breezeblocks





Dançar a passos lentos com o Desconhecido.
Ele estava de terno, não tinha face.
Dançar a passos desconhecidos com o Mistério.
Ela usava um vestido preto e batom vermelho.
Dançar a passos misteriosos com a Luxúria.

Meu acerto foi chorar o leite derramado.
Escorregar no líquido branco com maestria.
Deitado nas lágrimas ácidas.
O perdedor desprovido de dor só perde.
Talvez a ilusão de ótica não tenha sido contida.

Dance comigo hoje à noite,
caídos, derretidos, mesclados.
Seu cheiro invade minha mente,
queria sentí-la mais próxima.
Abrace minha alma só mais uma vez.

Amor inquieto, saudosista.
Fugira-me com gosto e ego largo,
estou perdido no vazio que ficou aqui no peito.
Essa doença podre, pobre de espírito,
ainda vai congelar minha pele morna.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

versus

I
Meu Registro Geral me dava dezesseis anos,
dez-e-seis anos de falta de pureza n’alma, virgindade que se disfarçava
de outra coisa qualquer mais pro lado da safadeza amolecida
“são os hormônios – deixa a menina!”
Acabei me doando de um jeito que até o espírito sangrou,
e não foi pouco não, durou a semana inteira de muita dor. Dor arrastada daquelas
que são mais no ego que no corpo e dão uma sensação de que
“esse mundo cheio de massacres idiossincráticos” – não sei, já estava acostumada.

Meu Registro Geral me dava dezesseis anos
dez-e-seis anos de fogo dantesco nos sorrisos inquietos de menina
intocada. Não intocável, era tudo o que eu queria ser encostada por outro
nas minhas intimidades mais profundas de ser raso que eu era
aos dez-e-seis anos. O problema é que fui tocada errada e
ao invés da intimidade profunda, ele chegou no fundo do meu abismo...

[O problema de se encostar no abismo de alguém, é
que você não sabe que está encostando... Sabe que algo melhorou pra você,
mas não sabe que piorou para o outro.
É que o abismo de alguém é área proibida para terceiros, todos sabem,
mas ninguém cumpre.]

Na semana seguinte, ainda com o espírito dolorido, o ego machucado,
meu sorriso era triunfal de moça vivida
experiência da ingenuidade não corroborada e a legitimação daquilo que chamei
pra mim mesma de amor próprio forçado.

O mundo inteiro me era outro e eu continuava sendo a mesma
porque o meu Registro Geral ainda dizia que eu
vivi ali por dez-e-seis anos... e nele não havia registro nenhum de qualquer tipo
de experiência nova ou velha,
mesmo sendo tão tabu quanto aquela. Acho que a falta de espírito na brincadeira
me deixou murchar de novo, como se ao invés do triunfo
só tivesse ocorrido o sangramento forçado.


II
Os olhos fixos do gato me dão arrepios por me lembrarem
os olhares ferozes de uma nova alma ainda não presente
entre estes que aqui estamos, o socorro advindo de um ventre noviço – o próprio
novelo do gato. Enrolado, enroscado, entre-vísceras, entreaberto de peito
pro mundo novo que se faz ao seu redor. Será? Peralta em breve.

Peralta, certamente; disso sei porque também fui um dia e nem faz tempo -
foi como ontem, se não tiver realmente sido, talvez eu ande algo próximo
do perdido... entre a falta de escolha
e a falta de coragem. Coragem essa que tive no momento errado ao procurar certas
intimidades profundas profanas prolongadas por mais tempo que aquele próximo mês.

Agarrei-me à possibilidade próxima e joguei-me d’um precipício. Sem cordas,
só vendo eu e vento. Banhei-me em sangue alheio e agora...
agora nem sei se dou conta de tamanha loucura criada a dois. Pura demência
essa que carregam por mim. Nem me lembro dos crimes
que cometi, todos foram sem querer... Mas de que isso vale? Já está feito.

O gato agora cruza-me com desdém e isso me irrita profundamente. Eu sou
um deus moderno, apocalíptico como aquela que invadi nessa minha época
de ser quem sempre fui. Agora não o sou mais, sou cinco de dez. Anjo
na terra, caído como quem foi jogado... já que pulei do precipício.
Meia volta, volta e meia, dei de braços abertos àquela puta. Madalena da
atualidade que é. Somos um conjunto de perfeição.

[Perfeição define-se, nesse caso, como algo que tenho como certeza, fora
das iniquidades sociais. O fruto estará aí e provará, nem há vergonha mais por minha
parte, eu estou livre das mentiras criadas por quem viu nada. Assim,
continuamos sendo mais do que quem não estava lá. Madalena
e deus.]

Respirar mais forte como estou fazendo nunca me livrou
de ser o gato que me julga. Nem de
usar todas essas drogas que usei-uso-arei. 

III
Mês que passa corrido como
a galinha que fugia de mim naquela
infância distante que tive.
Há um mês é o mesmo que dizer
há cinco-anos-e-três-meses-e-dois-dias que tive a prova
do fim da juventude. O
retrato destruído de Dorian Gray.

Pedido de socorro que veio tarde demais, pequena criada de
magros olhos tristes sorrindo de fome,
do meu seio só saiu leite em pó. Pequena criada da destruição em massa,
buscava a falta de complacência ao me
deixar às traças. Infâmia vestida de piada e meu pedido de socorro
deixou de significar algo.

“M.E.D.O. é o sentimento, ansiedade é a sensação” foram as
últimas palavras ao meu pedido de socorro, mas deixo claro que
haverão outros e que o seu
nirvana não poderá livrá-lo dessa.

[O que ninguém jamais perguntou é se o
nirvana é o mesmo para todo mundo e eu acho
que não porque o seu só me fez chorar e me deu
tudo menos paz.]

Loucura minha achar que uma prova desse tamanho
de que o mundo é cruel seria
minha chave de liberdade. Aliás, loucura não. Inocência...
E o resto da que tive se esvai agora por entre meus dedos de
membro perdido da vida. Quase me sinto outra.

IV
Criatura perdida, filha abandonada de deus. Eu? Eu
fugi no segundo mês, acometido pelo desesperado sentimento de necessidade
de uma calma maior. Larguei os detalhes e pisei no mundo aqui fora como quem pisa em nuvem
macia feita de algodão. Já não sei como anda nada,
nem como fui feito de tantos dissabores assim... Sinto-me estranho.
Parece até
dor. Dor? Mesmo? Não, não... Incômodo raso de curta duração.
Viu? Passsou. Mostro-te a ponta do iceberg, meu caro;
por baixo dessas minhas camadas de gente há um monstro de gelo, e eu o sou, e ele me é.

Na minha boca sinto o gosto amargo de vencer sem ganhar porra nenhuma, e aqui
estou eu. Se antes acreditava que abandonei, creio que o ato se inverteu.
E por aí eu caminho a passos tortos procurando uma alma perdida qualquer para
lamber minhas desonras e fraquezas. Vida insípida demais
para alguém que acredita ser deus ele próprio.

Tenho mantido meus tropeços longe daquilo que por minutos chamei de meu, aquela
pequena forma de vida por cima de mim, querendo tornar-se grande.
Matenho-me distante do que antes fora responsabilidade e minha e agora é só mais uma
memória
diáfana.

[Fazer-se de memórias imprecisas é perigoso, pois já não se sabe mais da real natureza
de certas passagens. Entre sonhos e fatos verdadeiros, o que fica na sua mente é
apenas borrões mal-construídos.
Quem sou eu se não um personagem cheio de imagens misturadas na cabeça?
Meus medos maiores são as memórias inventadas.]

Dou minha cara a tapa a qualquer cara pálida por aí, pois eu
já não funciono ou sirvo para coisa alguma. Sou só mais um anjo caído, estraçalhado,
perdido nesse mundo infinito de gente pouco polida.
Desconforto conduzido.

V
Leveza
           inquieta
                       brincalhona
de quem acaba de levantar do sonho mais longo da vida toda, seguida de desespero
dolorido, cego. Comecei assim, foi como me disseram.
Hoje, envolta em amarelo pálido, não me lembro do outro. Só lembro dessa que ficou.
Há dias que chora mais que eu, e a fome aperta em nós duas. Não é só essa fome aí que todo
mundo pensa e teme,
é aquela outra fome, sabe? Aquela fome de ser maior
e mais forte, fome de ter forma de leão pomposo como aqueles homens de filme antigo.
Mas eu estou longe disso; bem longe, é fato. Sou algo como o contrário
da fonte da juventude. Retirei a vitalidade dessa que me tem pra si como importante.

Eu sei que sou fruto da infância interrompida, e que a ingenuidade me criou. Sei também
que fui feita de uma mistura mal-feita do doce com o amargo;
pitadas de sal não foram adicionadas à minha receita de moleca perturbada.

A moeda de troca de onde estou agora é o ódio velado. Eu odeio quem me odeia e isso
fica bem claro sem nem ser dito, a vida é toda assim. Antigamente
eu via os céus estrelados como milagres diários, mas a fumaça do cigarro de minha progenitora
enevoou minhas noites. Tenho pavor de morrer sem rever as estrelas do jeito que via antes. E percebo,
vez ou outra, o tanto que sou nova para ter esse tipo de medo.

[Existe, sim, um certo perigo em temer muita coisa muito cedo, pois sabe-se
que nem tudo foi vivido ainda e quando se teme, dificulta-se o ato de viver o que se é necessário.
Quando se faz como eu, morrer é algo distante,
mas viver de fato é mais distante ainda. Como se diz? Antes viver pouco
que gastar o tempo apenas sobrevivendo. Ou qualquer coisa assim.]

Hoje meu Registro Geral me dá dezesseis anos.
Dez-e-seis anos de precaução e medo do novo, do alheio. Sou aquela que,
desinteressada, não se rebela por nada.
Meu Registro Geral diz que meus dez-e-seis anos estão em seu fim e eu não dei um passo
fora da linha estipulada por mim mesma há seis anos. Existem aqueles que estranham, tenho
a cautela de um senhor de setenta anos
“são os traumas – deixa a menina!”

Pois encurralo-me na solitária que eu mesma criei. Diferente do que mamãe fizera há dez-e-seis anos.

terça-feira, 9 de junho de 2015

carbonato de lítio

II

Um comprimido por dia ao "acordar".
450mg – uso adulto
“Níveis tóxicos do lítio estão próximos a níveis terapêuticos. Os pacientes e seus familiares devem estar atentos a sintomas precoces de intoxicação, interrompendo o uso da droga e informando o seu médico imediatamente.”

Não passar de um comprimido por dia ao "acordar".
Mas eu preciso mesmo levantar? Sair
da cama, do quarto... Lavar o rosto e encarar o espelho que não mostra
nada novo?
Doença cretina escancarada nas olheiras,
bolsas negras sem vida sob as janelas da alma. Que irônico é não sonhar.

Estranho, entretanto, é esse sentimento antitético de esperança e
desapontamento precoce. Eu sei que
esse tipo de droga pega o caminho mais comprido pra chegar ao seu destino final. Isso tudo
para que eu não tenha um final.
Não assim tão cedo.

Dia 1, dia 2.
Dia 3, dia 4, ... , dia 6.
Segunda semana de medicação – picture here a blackboard [NO CHALK]. Então eu escrevi
com as unhas, arranhando o quadro eu escrevi o que sentia:
d e s e  s   p    e     r       o
do tipo que ecoa, do tipo que atormenta de fato. E DE FATO eu entrei em desespero.
Agonia profunda.
Dor.

O real fundo do poço antes da luz da saída. Disseram-me. Agora entendo.
A sensação-buraco com toda a sua força.
O mundo meio turvo o dia inteiro, coberto de cansaço e aquela amiga íntima,
a Solidão. O meio mais fácil é seguir com o véu,

esperar ele cair sozinho.

Dois comprimidos por dia.

Vício

O gosto amargo do café
misturado às mágoas do cigarro.
Um rosto pensativo,
os olhos encarando o vazio.

O nada.
Aquela velha questão
do porquê do vício fétido...
E mais um trago.

O cigarro chegando na
met
ade.
Mais um trago.
As fumaças se misturam.
A cena é linda.
O vício da beleza.
E mais um trago.

A fumaça inquieta.
Ele calmo.
O vício do paradoxo.
Mais um trago...

O cigarro está no fim...
É o último e ele não sabe
se vale a pena.
O cigarro acaba,
o filtro vai ao chão,
pisado como ele mesmo já fora tantas vezes...

Valeu a pena?
O vício dúbio
             dialético
               humano.

domingo, 29 de março de 2015

Um sonho de uma amiga e o exagero da realidade a partir do mesmo ou "I can't quit you, baby"

A minha vida acabou no momento em que a dele acabou. Exatamente como o rolê, que morreu junto com ele. Nosso centro acadêmico murchou, parece que fechou junto com o caixão... Ainda não entendi muito bem como aquilo aconteceu. Não entendi como ele pôde fazer isso comigo. E essas palavras ecoam na minha mente... Não. Ecoam na minha alma. 

"Como você pôde me deixar sem dizer adeus...? Eu não estou pronta... Eu não estou pronta."

Sei que ele não teve escolha, mas é que achei tão injusto! Seu colar está comigo e eu nunca gostei de perder amigos. Mas perdê-lo é outro nível de dor. Perdê-lo é como perder o chão. Não, não vou transformar isso em uma comparação... Perdê-lo é perder o chão. É quase literal, porque eu sei e todos que me conhecem sabem: estou, no momento, em uma queda de agonia infinita.

Eu me sinto infinita do jeito errado.
Baby, baby, baby, baby... Why did you have to leave me? 

domingo, 18 de janeiro de 2015

saudades

gosto das suas sobrancelhas, são bem desenhadas.
também gosto do seu nariz de traços definidos...
no entanto acho que o que me encanta em você são seus olhos.
olhos castanhos,
contornados de preto - parece delineador, meu bem.
mas acho que são os cílios.
olhos puxados.
você, quase índio,
tão bonito...

no fim, acho que sinto falta do conjunto.
do corpo, da boca, dos cabelos...

do suor.


das conversas após
nós.


acho que nunca vimos um filme juntos.